Continuaremos seguindo a linha mestra que iniciou esses estudos. Agora será vez de conceber o diagrama gráfico que revela a progressão e interação das duas variáveis mais importantes no nível humano: inteligência e moral. São elas que caracterizam a razão (intelecto) e os sentimentos (moral). Ver-se-à que a junção harmônica dessas duas, desenvolvidas até um alto grau, resulta na intuição - nova consciência a ser conquistada pelo ser humano. Veremos agora os pormenores.
Essa combinação das duas levará à definição de uma determinadas fase de maturação do indivíduo humano. Para classificar o indivíduo, é preciso observar tanto o grau de cada uma (inteligência e moral) em termos absolutos quanto a o delta - isto é, a diferença - entre ambos. Esses dois fatores (grau absoluto e diferença relativa) nos dará um dos quatro tipos evolutivos, cada qual correspondendo a uma fase:
Fase 1: Ignorância completa (involuído ou 'tipo ogro')
Fase 2: Ignorância com boas intenções ('bonzinho tipo moralista')
Fase 3: Conhecimento fragmentado (astuto ou 'bonzinho tipo intelectual')
Fase 4: Conhecimento pleno (evoluído ou tipo pleno)
Cada fase é vivenciada pessoalmente por um tempo relativamente longo: passamos várias existências em cada uma delas, exercitando todas as potencialidades que elas oferecem, aprendendo como usar o que temos e quais as restrições de nosso ser.
A transição pode levar um tempo considerável também - às vezes se dá numa vida inteira, sendo concatenada através de um período de preparação, outro de desenvolvimento (mudanças intensas e rápidas) e um final, de consolidação.
Observando a história do cosmos (escala macro) e a história humana (escala próxima) constatei que a cada salto evolutivo as durações dos períodos estáveis são significativamente menores - em relação ao anterior. Isso se traduz em aceleração evolutiva. Em paralelo, as formas de vida e inteligência que surgem são cada vez mais sensíveis a certos fenômenos, e com isso desenvolvem novas potencialidades que lhes permitem superar situações que julgam incomodas. Na espécie humana isso levou a um ápice evolutivo dentro do paradigma hodierno, que se apresenta no momento planetário atual como inquietação extrema. Essa inquietação se deve a uma incompreensão do fenômeno. O seu significado é a chave. Para 'onde' todo o caos presente aponta. Eis a questão de nosso tempos.
Tudo me leva a crer que estamos num momento de transição profunda. Vários ciclos se completam, desde a menor até a maior escala. É momento de captar a mensagem do caos. A desorientação generalizada só pode apontar para a necessidade de re-estruturação de tudo que conhecemos; do modo como aprendemos a fazer; dos valores; das prioridades. De tudo.
O momento histórico é de reconhecimento do indivíduo que vive a fase 4. Isto é, a incorporação dele na sociedade como um membro a ser inicialmente reconhecido, depois estudado, subsequentemente compreendido e finalmente absorvido. Porque se trata do futuro do ser humano - ou o futuro do ser humano. O super-homem de Ubaldi. O intuitivo. Ser capaz de conjugar numa única personalidade alto grau de razão e sentimento, combinados de forma harmônica, resultando numa psique altamente desenvolvida que se reflete na forma de ver o mundo, interpretar e utilizar a dor e se relacionar com o cosmos.
A junção entre intelecto e moral permitirá ao ser humano um aumento concomitante desses dois pólos, que atingirão níveis nunca antes imaginados. E mais importante: juntos.
O gráfico (Fig.2) mostra como a inteligência e a moral evoluem com o tempo para um indivíduo.
A escala de grau evolutivo, assim como de tempo, devem ser lidas em escala logarítmica. Isto é, a cada caminhar linear na figura deve se interpretar não uma soma, mas uma multiplicação de grau por dez na evolução - e algo da mesma ordem de grandeza na dimensão tempo, que não especifiquei na figura. Adicionalmente, dividi as faixas evolutivas em quatro: rudimentar, baixo grau, médio grau, alto grau.
A linha contínua representa a variável moral, enquanto a linha tracejada representa a variável intelectual.
O gráfico foi obtido após uma profunda imersão nos fenômenos da psique. O autor, observando os tipos humanos ao longo da vida pôde chegar a um esquema conforme apresentado. Após isso, foram feitas análises minuciosas de cada caso para observar se as definições correspondiam às personalidades. Os resultados levam a crer que o esquema possa ser levado em consideração no geral.
Vamos analisar, passo-a-passo, cada fase, observando suas particularidades, seus dramas, seus desafios, suas alegrias e suas dores. Com isso será possível a cada um mapear a si mesmo e se colocar em que momento particular vive nessa vida, nesse momento histórico. Para admitir tudo isso, mister já ter atingido um certo grau evolutivo - ou seja, estar acima das fases mais elementares. Pois uma pessoa que nem sequer começou a se perguntar sobre as questões mais importantes (e fascinantes!) da vida, da evolução, do universo, das origens e do destino, dificilmente irá compreender o esquema que é apresentado. Mas todos chegarão à compreensão.
Fase 1: Ignorância completa.
Aqui temos o tipo pré-histórico. O homem de poucas palavras por não saber articulá-las. Uma pessoa fortemente tamásica, presa às coisas mais elementares e sensível aos fenômenos mais brutos. O senso moral está em germe (praticamente invisível) e o intelecto, apesar de maior, é tão rudimentar que lhe permite apenas atuar estritamente baseado no nível sensório. É ação e reação direta, sem perceber desdobramentos de médio ou longo prazo, nem associações coletivas muito grandes. Há no entanto inteligência - e para época em que predomina esse tipo ela é suficiente. Ainda encontramos tipos humanos nesse nível, apesar de raros. É o subnormal.
Fase 2: Ignorância bem intencionada
Aqui há um salto na moral. O senso de respeitar determinadas regras é inflado. O ser vê significado maior em certos dizeres - geralmente relacionado à sua cultura, sua comunidade, seu meio, sua natureza. Surge o tipo religioso dogmático. A pessoa está comprometida com um sistema de crença e valores e crê ter chegado à compreensão absoluta de tudo. Ela vê a importância da moral (aspecto positivo), mas coloca-a como elemento único que deve conduzir a sua vida (aspecto negativo). Assim não desenvolve o intelecto, julgando seu nível de pensamento o suficiente.
Suas capacidades cognitivas são superiores ao tipo anterior, pois os ensinamentos morais que absorve possuem uma narrativa preenchida com uma certa lógica. Lógica que, apesar de rudimentar e até infantil para os tipos subsequentes, lhe é suficiente e completa.
Esse ser se considera com a verdade absoluta e não consegue lidar com os paradoxos de seus sistemas. Sua vida é conduzida de forma bem intencionada, mas carece de intelecto para evitar as astúcias do tipo- III e para compreender realidades mais profundas do mundo. Realidades inclusive que, se assimiladas, lhe possibilitariam uma maior densidade de moral - mesmo que com uma diminuição na prática. A humanidade possui uma quantidade razoável de seres nesse grau. Podemos dizer que temos um ser medieval.
Fase 3: Conhecimento fragmentado
Nessa etapa o intelecto explode, atingindo patamares muito elevados. Essa conquista se dá à custa de uma redução (temporária) da moral. Concentra-se as (ainda) poucas forças (= grau moral + grau intelectual) num campo, para que este progrida. O ser percebeu que as narrativas contadas a ele são insuficientes para conquistar o mundo à sua volta. Sua vida clama por mais plenitude, mais esclarecimento. Inicia-se o caminho do progresso.
Podemos denominar o tipo dessa fase de homem da ciência ou homem astuto. Porque na verdade existe uma relação entre a ciência e a astúcia; entre o cálculo e o interesse. Há várias formas de obter um ganho pessoal. E à medida que se evoluiu, a forma de exploração do outro se torna mais sofisticada: parte-se da agressão física (guerras) para a exploração econômica (domínio através dos recursos e serviços) e desta para a manipulação psicológica (mídia, valores propagados). A extração de algo do outro se dá de forma cada vez mais sutil, delicada. Se maldoso por um lado, por outro é bom, pois conduzirá o ser a um beco no qual a única saída aponta para cima. Um novo início - e não uma continuidade de antigas práticas.
A razão atinge um grau alto comparado àquela do tipo-II. Sua moral é menor, no entanto. Mas essa menor moral é melhor compreendida e contextualizada em sua vida. Esse germe permitirá um próximo salto, como veremos.
Fase 4: Conhecimento pleno
O tipo racional, sentindo um incômodo profundo na vida, começa a alterar o estado dinâmico de sua psique. O que julgava absoluto e solução de todos problemas (o intelecto altamente desenvolvido) passa a ser visto apenas como um pólo num sistema dipolo, no qual ambos devem crescer e se equilibrar. O sentimento floresce e passa a crescer, dando cada vez mais significado moral aos gestos práticos, ao pensamento, à maneira de ver o mundo.
A ciência não avança porque enfrentamos o problema do mundo com mentalidade dualista: observamos o fenômeno como separado de nosso ser. Não há percepção de que o observador é um fenômeno dentro do fenômeno. Isso fecha as portas para a compreensão dos mistérios da vida. É o que Sua Voz fala em AGS.
Com o aumento exponencial da moral, logo atinge-se uma paridade entre os pólos. O intelecto, que aparentemente chegou em seu zênite, começa a avançar ainda mais. O ser se torna mais inteligente, carreado pelo senso moral profundo. A sensibilidade é alta, altíssima, e é aproveitada da melhor forma. Não se lamentando nem se enervando, mas tensionando a criatividade do ser. A ascensão de ambas leva o ser a um patamar inimaginável.
Começa-se não apenas a ter lampejos de intuição (visões, premonições, etc.), mas a controlá-la, capacitando um trabalho entre razão e intuição. Isso se dá quando se atingiu a fase de estabilização nesse patamar, como Pietro Ubaldi, cuja mediunidade era ativa e consciente.
Há ainda mais fases nessa jornada, como a fase mística-unitária, que foi arranhada pelo apóstolo da Umbria (relatado no volume Ascese Mística). Mas foge ao escopo desse texto adentrar nesse estágio da evolução -tremendamente elevado para nosso concebível.
Para ficar claro a natureza de cada um dos quatro tipos, foi elaborada uma tabela (Tab.1).
Passa-se de uma moral negativa e intelecto negativo (involuído) a uma moral e intelecto positivos (evoluído). Entre esses dois tipos tão citados por Ubaldi, dois elementos de transição: o homem moralista e o homem da razão.
A visão de mundo (como cada um percebe e sente as coisas que ocorrem ao seu redor) tem como ponto de partida a característica de ser imediata e sensória (tipo-I); passando a ser imediatista e dogmática (tipo-II); adentrando numa fase mais sofisticada, com reflexão das atitudes e cálculo de interesses (tipo-III); até culminar em algo pensado e vivenciado (tipo-IV).
Do ponto de vista sistêmico, podemos ter como foco de mudança de cada tipo: eventos (tipo-I), comportamento (tipo-II), estrutura (tipo-III) e forma mental ou modelos mentais (tipo-IV). Para quem deseja saber melhor sobre essas definições, recomendo a leitura e o estudo de ensaios anteriores, em particular um escrito recentemente [1].
A visão sistêmica dos dois tipos iniciais (I e II) é das partes; a do tipo-III consegue captar as relações; e a do tipo-IV vê o objetivo (telefinalismo). Essas visões conduzem a formas de vida completamente diferente.
É importante ressaltar que as visões, focos de mudança e características de todos tipos estão presentes nos outros também, só que em graus diferenciados. São concomitantes. Quando classifica-se um tipo está sendo dito que o centro de gravidade de sua natureza está num lugar ou noutro.
O crente dogmático sente uma finalidade e vive de acordo com ela (apesar de ser restrita); o ogro percebe o comportamento dos outros; o homem intelectual também tem suas preocupações imediatas; e o santo também faz uso de sua inteligência. Tudo está relacionado e interage.
Assim se estabelece essa caracterização e relação que vai do involuído ao evoluído, colocando em forma gráfica e com definições mais claras o fenômeno humano.
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