quinta-feira, 15 de julho de 2021

Significado da noosfera

A noosfera é o terceiro nível de evolução na escala planetária. Trata-se de uma rede complexa pautada na informação. Os níveis precedentes são a base para a formação dessa esfera mais sutil, imaterial, dinâmica. Já foi feito um estudo sobre a formação dessa rede informacional. Agora iremos nos aprofundar no seu significado. 

Podemos estabelecer uma analogia entre as fases matéria, energia e espírito e a formação dessas três camadas nos mundos.

Fig.1: O passado (biosfera) já se consolidou. Para preservar o que foi construído ao longo de 3,8 bilhões de anos, 
é imperativo forjar uma esfera de consciência superior. É necessário transcender o intelecto e criar uma rede
do pensamento humano, não-local, imaterial, intuitiva.

A geosfera (geo de terra) é o mundo mineral, os oceanos, a atmosfera, os rios, e todos os ciclos (oxigênio, nitrogênio, carbono e água) dela. Ela está para a matéria. É a base para a formação da vida - que necessita de condições adequadas de temperatura, pressão, umidade, proporção entre elementos, entre outras questões. Observamos os mundos e vemos diversas geosferas: planetas de diversos tamanhos, composições atmosféricas, condições atmosféricas, ritmos, etc. Mas todos identificados apenas apresentam elementos não-vivos.

A biosfera (bios de vida) se ergue logo que a biosfera se estabiliza: repare que a vida começa a se formar na Terra há aproximadamente 3,8 bilhões de anos (primeiros seres unicelulares, procariontes, ou seja, cujas células são mais simples do que as eucariontes). Considerando que o nosso universo terrestre foi forjado há 4,5 bilhões de anos, com os milhões de anos subsequentes permeados de cataclismos colossais que impediriam qualquer tipo de respiro de qualquer criatura - por mais robusta que ela fosse - o tempo entre a base da geosfera e a base da biosfera foi bem curto. Gilson Freire destaca em Arquitetura Còsmica que, tão logo as condições mínimas se apresentaram, a vida começou a se manifestar. Ou seja, a vida não perde tempo. Tampouco desperdiça recursos. 

De lá (3,8 bi de anos) para cá (hoje) muita coisa ocorreu: 

1) as células eucariontes surgiram, que servirão de base para a formação dos seres pluricelulares;

2) inicia-se a produção de oxigênio pelas células (fotossíntese); 

3) outras células (animais) começam a produção aeróbia (consumo de oxigênio);

4) surgem os seres pluricelulares: plantas, peixes, répteis, aves, mamíferos;

5) no ápice orgânico dos mamíferos, dentro do gênero Homo, surge uma espécie distinta chamada Homo sapiens;

6) o Homo sapiens passa por três revoluções (HARARI, Yuval N.): cognitiva, agrícola e científica;

7) Após a Revolução Científica (séc. XVI), desdobrou-se outras revoluções contidas no paradigma, cada qual um salto quântico em termos de impacto físico e conceitual: Rev. Francesa (expansão da política, séc. XVIII), Rev. Industrial (salto da economia e dos processos tecnológicos, séc.XIX), Rev. Russa (introdução do conceito de justiça social, séc. XX);

8) as três ondas introduzidas pela modernidade culminaram num mundo cheio de conflitos, contradições e possibilidades, em que diversos ciclos estão prestes a findarem.

Uma ilustração pode dar uma ideia dessa jornada evolutiva - lenta no tempo mas rápida na maturação.

Fig.2: Eventos mais importantes no desenvolvimento da biosfera - da formação da Terra ao ser humano.

Hoje estamos no ápice evolutivo. Esse clímax traz em si possibilidades de formar um mundo maravilhoso (comparado ao atual). Mas ao mesmo tempo, há o risco de um colapso que atrasaria o processo evolutivo por milhares (se não dezenas de milhares) de anos. Esse ponto de decisão (salto revolucionário ou colapso) é muito bem sistematizado, justificado e apontado por Ervin Laszlo em seu livro Ponto do Caos.

Fig.3: De tempos em tempos, chega-se num ponto crítico, em que o livre-arbítrio pesa como uma bigorna. 
Nesses tempos surgem as grandes almas, o super-homem, que com sangue, suor e lágrimas, 
dá todo seu rendimento para o despertar do mundo.

Chegamos num ponto formidável da evolução deste planeta. Cada degrau menor dentro de um degrau representa uma evolução de diferente nível. As escalas se tornam menores, mostrando que o ritmo da vida é frenético comparado à matéria; e que o psiquismo humano (razão) é frenético comparado ao mundo orgânico. O ser humano representa o ponto culminante de evolução em termos biológicos neste planeta. Desse ponto em diante, a evolução se dará em outros planos. Ela será imaterial, sutil, com uma atividade psíquica cada vez mais intensa, denotando a formação de um corpo mais elevado, o que significa uma consciência expandida, capaz de sentir menos desespero na transição entre vida física e vida extra-física. Isso é evolução do pensamento (primeiramente); e após, evolução da vivência. O que se sabe mentalmente passará a ser injetado na veia da experiência quotidiana, que se sedimentará na medula dos valores mais profundos do ser. 

Está na hora de resgatar as grandes Escrituras Sagradas (Bhagavad Gita, Tao Te Ching, Bíblia, Torá, Corão,...), recheando-as de conceitos modernos, desenvolvidos pela ciência moderna - em especial pela visão neocriacionista. Esse é o momento crítico da humanidade. O momento em que a ciência humana sairá da classe de algo incerto e sem solução na prática, para ser guiada por princípios certos, científicos e lógicos, tornando o Direito uma aplicação justa; o Estado um organismo benéfico para tudo e todos; a Economia um sistema verdadeiramente eficiente, que serve os desígnios do Estado - que por sua vez exprime a vontade de Deus e respeita as limitações evolutivas da criatura. 

Essa transformação está prestes a ocorrer, e dependendo da massa crítica - isto é, quantidade de pessoas engajadas de corpo e alma nessa mudança - podemos ter uma ascensão como jamais vista na história deste planeta. Trata-se de uma metamorfose da consciência. Não mais paradoxos insolúveis que geram contradições a todo momento, mas uma base conceitual e uma vontade sincera que unidas levarão a uma organização (muito) mais justa, verdadeiramente eficiente, com uma hierarquia social muito mais condizente com a hierarquia cósmica. Uma hierarquia que, por estar mais alinhada com a Lei de Deus, permitirá que o dinheiro se dirija a quem realmente merece - e saia das mãos de quem não faz bom uso. 

Voltemos ao ponto da noosfera.

Percebemos que o processo de formação, desenvolvimento e consolidação da biosfera foi relativamente longo. Apenas nas últimas décadas observa-se a formação da nova esfera. Foi uma longa jornada. E o modo de se fazer as coisas na biosfera dá uma ideia de como devemos formar esse mundo psíquico global.

Percebe-se que o processo evolutivo a partir das células procariontes originou células mais complexas em termos de organização, as eucariontes (eu = verdadeiro). Uma das hipóteses mais aceitas defende que as células procariontes teriam englobado células bacterianas, iniciando uma relação de cooperação conhecida como simbiose. Nessa relação, a célula fornece proteção do meio externo e nutrientes para a bactéria alojada; ao passo que esta viabiliza um maior rendimento à célula, com maior aproveitamento energético através da respiração celular. É uma relação mutuamente vantajosa. A figura abaixo ilustra esse processo [1].

Fig.4: De um organismo simples (célula procarionte), associado a outro menor (bactéria), 
estabelece-se um convívio baseado na cooperação: ambos saem ganhando. 
Nesse contexto, o todo acaba sendo maior do que a soma das partes. 
Isso é conhecido como emergência em ciência de sistemas. 

Percebe? O pensamento sistêmico estava presente desde o início! Inconscientemente no nível orgânico - e agora se tornando cada vez mais consciente, claro. 

Os estudos e conceitos e inventos iniciados no séc.XX (Mecânica Quântica, Relatividade Geral, Pensamento sistêmico, Cosmologia moderna, Computação digital, Psicologia profunda, Ecologia profunda, EQM's, etc.) devem agora ser compreendidos para que possamos fazer um uso verdadeiramente nobre de todas essas descobertas. 

Pela primeira vez é possível a uma pessoa comum acessar conhecimentos extraordinários - e de forma simples, com o desenvolvimento dos métodos pedagógicos e das tecnologias, que aliam vídeos com imagens com animações com figuras com sons e experiências. As condições, apesar de ainda involuídas, estão dando a certas pessoas a possibilidade de se dedicarem ao que realmente interessa. Basta a pessoa estar sintonizada com a Lei - percebendo qual o objetivo da vida.

Por isso é triste ver pessoas em condições razoavelmente boa desperdiçar seu tempo com aspectos mundanos, usando desculpas das mais disparatadas para justificar a falta de tempo. Assim Deus sempre fica em segundo plano. Sempre. A trajetória da vida denuncia o grau evolutivo: quem tem mais pressa em engordar além do necessário, se reproduzi além das capacidades (psicológicas, materiais, emocionais, de educar, etc.), preencher o currículo com o que o mundo valoriza (mas a alma agoniza), demonstra que está seguindo os ditames da coletividade, seja ela uma elite acadêmica, o cargo no emprego, o sonho de uma posse ou coisas do tipo. 

Quem segue sua consciência se lança de corpo e alma no que gosta.

Vou além:

Quem chega a este mundo já razoavelmente evoluído, com espírito ardendo de paixão por evolução, estrutura sua vida inteira de modo a obter o contexto (contatos, amigos, condições materiais e financeiras, condições educacionais, trajetória histórica individual) mais favorável para que seja possível ser livre nas criações do espírito.

Para quem acompanha de corpo e alma, digo: estamos num mergulho abissal. É preciso ter estofo fora do comum para viver uma vida que seja invulgar. Uma vida que outros, se observassem à fundo, diriam: "Nossa! Como ele conseguiu fazer essas coisas? Como ele vive seu sonho dia a dia, forjando as bases para novos mundos? Como...?"

A noosfera representa um próximo estágio na evolução deste planeta. Assim como a biosfera trouxe uma riqueza inimaginável para a camada que reveste a Terra, a esfera do pensamento irá revestir a vida e a Terra com um significado - essa é a palavra-chave. 

Vamos retomar o conceito de hierarquia. Foi dito que as esferas se constroem uma a partir da outra. 

"The three spheres build on each other: For example, life in the biosphere needs the geosphere to survive (matter, water, and air), and thinking needs to be embodied in the biosphere, via the living brains of human beings and our technology. So the Noosphere can be seen as the rise of a planetary superorganism integrating all geological, biological, human, and technological activities into a new level of planetary functioning."

Fonte: [2]

"As três esferas se constroem uma sobre a outra: Por exemplo, a vida na biosfera necessita da geosfera para sobreviver (água, matéria inorgânica e ar), e o pensamento precisa estar incorporado na biosfera, através do cérebro de seres humanos e tecnologias de suporte. Dessa forma a Noosfera pode ser vista como a ascensão de um superorganismo planetário integrando todas atividades geológicas, biológicas, humanas e tecnológicas num novo nível de funcionamento planetário."

Tradução e adaptação minhas.

 A ideia de noosfera não foi exclusiva do paleontologista Teilhard de Chardin: o matemático Édouard Le Roy e o geoquímico Vladimir Vernadsky deram igualmente grandes contribuições ao termo, esmiuçando o fenômeno desse novo domínio [2]. Daí já se percebe que um fenômeno emergente pode ser vislumbrado por profissionais de diferentes ramos, de diferentes culturas e locais geográficos. O que conta e a intuição - essa capacidade super-normal de perceber o que está além do concebível...além dos limites que circunscrevem a atuação e crença das pessoas. 

Fig.5: Pierre Teilhard de Chardin, Édouard Le Roy e Vladimir Vernadsky.
Fonte: [2]

O trabalho referente à noosfera desses três homens se deu entre 1927 e 1955.

É interessante reparar que a noosfera não parte de uma ideia religiosa. Trata-se de algo científico, concreto, cujas evidências se tornam cada vez mais visíveis por qualquer um à medida que progredimos como coletividade. Vernadsky era ateu. E apesar de Teilhard tentar integrar através desse pensamento a ciência com a religião, pode-se associar harmonicamente suas descrições com a de seus pares. 

O que Teilhard oferece além nesse trio é sua visão teológica: a de que a noosfera iria se desenvolver até que culminasse num ponto ômega  - que seria uma integração com Deus, ou nível de consciência místico-unitário na terminologia ubaldiana. Por se tratar de uma visão muito além da realidade presente e futuramente próxima, essa questão não é abordada por pensadores mais presos ao terreno seguro da objetividade e da ciência moderna. 

Pesquisando rapidamente pela internet encontro a ideia de que a noosfera é uma intersecção de três visões de mundo (já aceitas): a cósmica, a ecológica e a computacional [2].

O que é interessante na visão de Teilhard é que ele aponta para os conceitos ditos - implicitamente ou explicitamente - por Sua Voz em AGS, através da mediunidade inspirada de Ubaldi: a de que "a evolução é uma luz iluminando todos os fatos, uma curva que todas linhas devem seguir." Ele afirma que a evolução não cessa na humanidade: ao contrário, sugere que algo mais grandioso está prestes a vir quando a humanidade se unir numa escala global (noosfera).

A visão ecológica (ou verde) do futuro vê a Terra como um organismo vivo (Gaia), que infelizmente é vista com muito preconceito por parte da comunidade científica. Nessa visão é o planeta que está no domínio do fenômeno evolutivo - e não o ser humano. De certo modo podemos extrair verdades profundas das duas visões (a acadêmica formal e a ecológica inovadora). Somos o ápice da evolução e conseguimos dominar o processo evolutivo se não formos contra as leis profundas da natureza. Caso contrário, indo contra os princípios do Universo, estaremos saindo do eixo diretor e - mesmo retardando o processo de reequilíbrio planetário - dando justificativas fortes para que a Lei re-equilibre todo o planeta, nem que às custas de nossa espécie. 

Os grupos humanos conseguem extrair aspectos da verdade, mas por estarem limitados às suas visões (=conhecimento fragmentário) acabam por se revelarem impotentes na solução:

  • Os geólogos apontaram para os problemas globais, alertando que entramos numa nova Era geológica , o Antropoceno, em que a ação humana está moldando a 'cara' do planeta. Isso nunca ocorreu antes. No entanto, não são esboçadas soluções efetivas para mudar a trajetória em que nos inserimos;
  • Os movimentos verdes na política tentam amortecer os impactos humanos, mas não tocam no cerne da questão: o modo de vida e o modelo de desenvolvimento predominante em todo mundo é incompatível com o resgate da natureza. As mudanças tecnológicas são irreversíveis (fato 1); a biosfera (e partes da geosfera que a sustentam) precisa ser reequilibrada urgentemente (fato 2). O único modo de encontrar uma solução para dois fatos colossais e antagônicos na visão presente é gerar um novo paradigma (=nova forma mental);
  • Já aqueles adeptos das novas tecnologias são levados à visão da singularidade, que destaca que o progresso exponencial da tecnologia (no âmbito da computação, redes, inteligência artificial, robôs e internet das coisas) levará a um novo regime global - que alguns estimam ser por volta de 2045, e que será incompreensível. Por isso foi denominado momento de singularidade. As consequências dessa visão levam a um descarte do ser humano no processo evolutivo, com o artificial tomando conta do natural. Eu já destaquei o porquê dessa visão não estar de acordo com as leis evolutivas, realçando a importância do espírito. Usei o filme Homem Bicentenário para deixar claro como a Arte revela aspectos profundos da Lei de Deus, mostrando que o mais belo reside em elevar o natural - nem que arduamente e ao longo de milênios - do que abraçar as facilidades artificiais [3].
A visão da noosfera leva em conta aspectos substanciais dessas três visões (verde, cósmica e tecnológica), mas coordena-as e adiciona um tempero essencial nesse caldo: a de que o planeta necessita de uma mente pensante (=noosfera). Uma mente que permite lidar com todos os problemas da geosfera (ex.: mudanças climáticas), da biosfera (ex.: perda de biodiversidade) e simultaneamente viabilizando que humanos se tornem globalmente inteligentes, forjando um sistema político que distribua o poder de decisão sabiamente e um sistema econômico que estabeleça justiça social. As consequências dessa organização humana serão inimagináveis para o tipo médio, que vive uma vida limitada e não o sabe (por isso não se sente mal como aqueles que enxergam as possibilidades ao nosso alcance). 

E observamos que o mundo, sem conhecer a obra de Pietro Ubaldi, acaba chegando, pouco a pouco, a grande visão monista do Universo - e logo, de Deus. Essa visão afirma que matéria, vida e mente (humana e tecnológica) devem trabalhar como um sistema coerente evolutivo, como um todo.

A noosfera é importante por vários motivos:

  • Estamos imersos num oceano de informações. Isso não garante orientação. O futuro é incerto e imprevisível, gerando medo e ansiedade, que corroem relações humanas e deixam as pessoas cegas mentalmente: o sentimento se rebaixa a simples emoção; o pensamento se isola para satisfazer instintos baixos. E assim se naufraga tudo que foi construído nos últimos milênios (ou mais...);
  • A facilidade de acesso; o intercâmbio frequente; a velocidade de transmissão; o acúmulo de experiências; tudo isso não garante controle sobre a vida individual - muito menos coletiva. Estamos afogados em informações mas carentes de orientação. O que fazer com tanta tecnologia?
  • Temos uma História fantástica que começa a ser desbravada mais à fundo por pessoas. As plataformas de streaming possibilitam que um ser evoluído assista séries e filmes em telas grandes com home theater. Logo após, é possível buscar imagens e palavras para, a partir de sua formação cultural e acadêmica, por exemplo, gerar material (=textos, livros, músicas, assuntos, cursos, formas de vida, etc.) que pode ser facilmente compartilhado pelo mundo, instantaneamente. Isso é verdadeiro milagre. Mas só o é porque alguns poucos seres (ainda poucos...) fazem uso construtivo dos recursos modernos e potentes. 
Devemos espiritualizar a matéria - e não materializar o espírito.

Isso significa usar cada átimo de sua vida à serviço de algo maior. De pouco em pouco chegamos a uma existência plena de sentido, em que mesmo com as dores do mundo golpeando de tempos em tempos, o ânimo se mantém e o espírito se renova, buscando converter dor em conceitos penetrantes e sentimentos profundos.

A visão da noosfera nos dá uma real esperança, pois direciona a humanidade com base em evidências lógicas que não podem ser contestadas. Ela nos leva a ver todos os problemas de modo integrado, para que assim possamos gerar uma solução efeitva - que é integral. O Prof. Francis Heylighen da Universidade Livre de Bruxelas argumenta que a noosfera tem um potencial imenso para que possamos desenvolver versões pragmáticas dos atributos divinos, que são:

1º) Onisciência = saber de tudo, para que possamos resolver sem deixar uma partícula que provoque regressão;

2º)  Onipresença = estar a todo lugar em qualquer momento (Mecânica Quântica), de modo a termos a visão real do problema;

3º) Onipotência = prover qualquer produto ou serviço (necessário) para qualquer um que necessite, de modo a garantir o funcionamento da civilização;

4º) Onibenevolência = ter como meta a máxima felicidade possível (o melhor) para todos. Não se satisfazer com 'este é menos ruim do que aquele', mas sim apenas com 'o melhor possível'.

Jorge Damas destacou que a os três pilares da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) estão sendo desdobrados na humanidade desde essa época (ver vídeo abaixo a partir dos 49 minutos).

A Revolução Francesa iniciou abrindo os caminhos para a liberdade econômica e política;

A Revolução Russa iniciou o movimento de justiça social, que se traduz em igualdade;

O próximo passo é colocar em marcha as forças que irão imprimir a fraternidade entre os seres.

Liberté, Égalité, Fraternité 

(Liberdade, Igualdade e Fraternidade)

Dois movimentos se iniciaram - o terceiro quer nascer. 

Mas iniciar não é se consolidar. Ainda há um tortuoso caminho a ser percorrido - através de experiências, assimilações e rearranjos - antes que cheguemos à plena liberdade, igualdade e fraternidade. Liberdade político-econômica, igualdade social e fraternidade entre tudo e todos. 

A noosfera se alinha com a gênese desse sentimento de fraternidade. Porque uma fraternidade, para nascer, precisa atuar numa base interconectada, com mentes que consigam ir além das aparências e pensar de modo sistêmico. É preciso que um germe de intuição esteja presente. E assim iniciar-se-à um novo nível evolutivo em nosso planeta.

A gênese da noosfera dará a plataforma para a manifestação do sentimento de fraternidade.

Teilhard argumentava que era necessário três condições para que a esfera de pensamento iniciasse sua formação:

1ª) O advento do ser humano, cuja capacidade de reflexão permite expressão/comunicação simbólica sofisticada, levando a unificação de grupos humanos;

2ª) Igualmente, o ser humano leva a evolução a não ser mais uma mera diversificação de espécies, mas também uma convergência de valores, ideias, informações, saberes, experiências, formando um todo coeso e integrado;

3ª) O ser humano, se tornando uma espécie global (no espaço e no tempo), conquista uma adaptabilidade nunca antes vista.

Reflexão que conduz à unificação.

Evolução através da convergência.

Globalidade que constrói a resiliência.

A hereditariedade passa a englobar mais do que a transmissão genética pais-filhos: ela se torna uma construção cultural, transmissível através de pessoa a pessoa. Assim começamos a chegar cada vez mais próximo do conceito de hereditariedade psíquica que Pietro Ubaldi tão bem explica em sua obra. Com a cultura é possível transmitir informação (valores, métodos, saberes, etc.) sem a necessidade de codificação nos genes (DNA). O processo evolutivo torna-se muito (mas muito) mais veloz. E com isso surge a agilidade e adaptabilidade sem iguais. 

Os computadores e as redes de comunicação estão se tornando num sistema nervoso global, semelhante ao corpo humano com seu cérebro e sistema nervoso. Isso nos torna mais sensíveis porque mais próximos de outras realidades. É possível sentir o outro melhor. Tudo isso acelera o processo de sensibilização do ser. 

A reprodução também acompanha esse compasso de hereditariedade: inicialmente se perpetuava a espécie de forma assexuada, o que diminuía as possibilidades de variabilidade genética (=menos diversidade=menos resiliência=menos possibilidades de criações novas). Com o advento da reprodução sexuada torna-se possível gerar uma biodiversidade cujo ápice está no ser humano, capaz das construções mais fantásticas ou mais horrendas. Para solucionar isso, é necessário aproveitar o que o terceiro tipo de reprodução (cultural) nos oferece): a possibilidade de despertarmos a nossa intuição.

O sistema Terra-Vida-Pensamento deve se tornar um organismo coeso, operando de modo harmônico e orientado a metas superiores. A responsabilidade reside na espécie evolutivamente mais à frente, herdeira de tantas benesses (nós, sapiens). Devemos nos inspirar em organismos vivos. 

Tomemos um bebê: ele é capaz de reagir a dor, regular sua temperatura e respirar. Essa funcionalidade também deve estar presente no planeta todo - mas ainda não está. Porque dependemos delas para reagir à altura dos desafios que se apresentam. 

Fig.6: Um bebê apresenta todas características funcionais que o sistema Terra-Vida-Pensamento 
deve possuir. Assim ele opera perfeitamente (veja que belo sorriso!). 
Com a noosfera o nosso mundo poderá ter esse semblante saudável 

A edificação de uma superestrutura imaterial sempre se inicia com um trabalho rudimentar, no nível mais material. Por isso começamos a comunicação espalhando cabos pelo mundo. O próximo passo foi o uso das ondas eletromagnéticas. Depois vieram os satélites, a fibra óptica, e hoje já vislumbramos o computador quântico. A telepatia começa a ser estudada a sério pela ciência. Mediunidade não é mais tópico para sessões espíritas apenas, mas campo de estudo sério que deve ser enquadrado numa humanidade monista.

Uma criança, à medida que cresce, deve aprender a lidar com suas emoções (intrínsecas a ela); deve aprender a fazer uso das ferramentas da mente; deve distribuir prioridades elementares e avançadas. No nível planetário podemos fazer esse trabalho com redes sociais, plataformas colaborativas, sistemas integrados. A Arte, espalhada de forma ampla, principalmente via música, filmes e séries, pode ser um elemento importante para despertar consciências. 

No ensaio que dará continuação a este iremos finalizar esclarecendo questões sob o prisma do monismo de Ubaldi, tocando em pontos interessantes como:

  • O surgimento da noosfera é iminente?
  • A noosfera se tornará consciente, isto é, terá sua independência?
  • Como preservar a liberdade individual com a construção de um superorganismo como esse?
  • O que a noosfera implica para o ser humano?

Referências:

[1] http://educacao.globo.com/biologia/assunto/genetica/origem-e-evolucao-das-celulas-e-hipotese-de-endossimbiose.html

[2] https://humanenergy.io/projects/what-is-the-noosphere/

[3] https://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2020/04/o-espirito-que-animou-o-artificial.html

[4] UBALDI, Pietro. A Grande Síntese.

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