O
biótipo médio de nosso mundo possui uma dificuldade muito grande em
compreender o significado da dor. Por possuir uma visão de curto
prazo, materialista e analítica, sua conclusão desemboca numa
interpretação de que o fenômeno da dor é um mal por natureza e
deve ser evitado / eliminado a qualquer custo. E inúmeros inventos e
descobertas e pessoas e lugares são feitos e buscados com base nessa
premissa. Mas nunca se pensou em fazer uso da dor para nos
melhorarmos interiormente - salvo raras exceções.
A
riqueza externa é a maior armadilha do mundo em que vivemos. Ela é
fortemente ilusória, dando uma quase certeza de realidade. Isso se
deve, a meu ver, devido à falta de sensibilidade do tipo biológico
que comanda e predomina neste mundo.
O
que é sucesso e o que é fracasso é ditado numericamente. O grupo
que possui maior força - porque compreende a necessidade de fornecer
às massas o que seus instintos demandam - dita as Regras do Jogo.
Quem vê a mais, é louco; quem imagina diferente, é
desestabilizador; quem sonha é perigoso e se dá mal. Fato. Mas a
questão é: por que se dá mal? E diante de uma pergunta tão
fundamental as respostas caem sempre com precisão no mesmo ponto (ou
nos mesmos pontos). E tudo permanece como está. Às vezes,
dependendo da época e do meio, nem sequer um segundo de um minuto de
grau de desvio na atitude é permitido. Rigidez espiritual num mundo
materialmente dinâmico. O abrangente que engloba tudo (espírito) é
engessado, enquanto o específico que engloba menos (matéria) corre
livremente. Eis o porquê das constantes crises. Onde se encontra a
sustentabilidade?
Ascensões Humanas. Livro que aborda questões políticas, econômicas, sociais, de saúde e amor sob um panorama vasto. |
Fugimos
da dor. Com essa atitude infantil atrasamos nossa evolução. Porque
ao evadir de uma situação que sempre se mostra presente o ser perde
a oportunidade de se fortalecer e se sensibilizar. Sim, sensibilizar
E fortalecer. Porque a sensibilidade bem orientada é uma arma
poderosa para defesa contra palavras e ações. Logo, é força.
Força discreta, elegante, inteligente e conduzida pela Moral, que é
a inteligência mais sublime. E aumenta o valor das poucas riquezas
exteriores, pois amplifica as interiores. Logo, necessitamos menos do
externo. Que nos leva a querer menos do externo. E assim nosso desejo
de entrar em lutas bélicas ou econômicas ou psicológicas decresce,
e a energia passa a abundar, porque não é gasta em jogos que levam
o ser a dar uma volta em torno de si mesmo.
Converter
a dor em conhecimento é a arte da evolução. É ela que nos dará a
orientação correta e a noção do que é verdade e sustentável.
Assim que nos sensibilizarmos nossa "máquina" interior de
conversão (dor → conhecimento → compreensão → paciência →
atuação sábia) passará a operar. O aflorar dessa capacidade,
levada ao limite, conduzirá o ser humano a um estado de felicidade
ímpar. Mas o desenvolvimento é lento. Até para aqueles que se
deram conta do caminho.
É
claro que dada nossa constituição física, aliada à pouca
fraternidade global adotada pela grande maioria de nós em diversos
graus nos últimos anos, conduzem as pessoas a adotarem posturas
aparentemente contraditórias à sua vontade. E às vezes ao seu
discurso. Isso pode estimular críticas por parte de pessoas pouco
aprofundadas ou desejosas de manter a ordem das coisas. Nessa
situação essas pessoas encontrarão argumentos aparentemente
sólidos que se apóiam na contradição entre prática e discurso.
Mas devemos nos lembrar que a atual (des)ordem das coisas possui um
autoritarismo travestido de liberalismo, que penaliza economicamente
e (principal e intensamente) psicologicamente pessoas ricas ou
pobres, jovens ou velhas, saudáveis ou doentes, homens ou mulheres,
com ou sem diplomas, crentes ou descrentes. Ou seja, há certas
atitudes e posturas saudáveis que não podem ser adotadas porque
isso inibiria - a médio ou longo prazo - a consolidação de outras
posturas virtuosas. Ou mesmo atrofiaria outras liberdades já
conquistadas através de lutas incessantes. Daí se explica que
construir o novo é uma tarefa dolorosa e solitária.
Toda
conquista pede uma renúncia.
Toda
renúncia consciente traz uma conquista interior.
Vale
a pena.
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