quinta-feira, 4 de setembro de 2014

FENOMENOLOGIA DOS RELACIONAMENTOS

As semanas precedentes me conduziram à formação de um esboço do que pode ser classificado como uma mecânica dos relacionamentos. Me refiro ao tipo de convivência afetiva que se estabelece entre dois seres, independente de suas orientações sexuais, meio social, crença, ideologia , faixa etária ou escolaridade. E através de observações pude elaborar um pensamento – ainda que nebuloso nas suas especificidades – que indica quais são as condições que tornam possível o florescer de uma relação saudável, e como esta, se iniciada, pode evoluir.

"Two for the Road", (Um caminho para Dois, 1967)
é um filme britânico de comédia dramática.
http://www.imdb.com/title/tt0062407/
Basicamente as condições são duas: (1) da natureza interior do ser (seus valores, sua história e sua sensibilidade) e; (2) das circunstâncias (meio social, familiar e classe econômica). Tendo como referência esse binômio Ser-Meio é possível prever o que há ou não de acontecer com o decorrer do tempo, e traçar uma lista de possibilidades das trajetórias.

Irei adotar como guia e referência o diagrama evolutivo elaborado magistralmente por Pietro Ubaldi em sua obra “Queda e Salvação”. É ele, além de outras grandes mentes, meu guia e modelo, sendo uma das forças genésicas que imprime profundidade humana e vastidão evolutiva a qualquer harmonia textual que venha a ser “gerada” por minha mente e meus dedos. No entanto, apesar da grandeza de meus guias, meu escopo é infinitamente menor em termos de abrangência e profundidade, sendo o meu objetivo meramente passar uma impressão o mais imparcial e universal possível de um (ainda) problema humano. Da mesma forma, espero que minha ambição seja tão ou mais diminuta que o raciocínio que irei desenvolver, caso contrário cairei na armadilha de ter uma pretensão discursiva maior do que o conteúdo transmitido.

Após um processo de observação e absorção de vivências, realizei uma filtragem de modo a chegar a uma síntese. Mentalmente me vieram três condições possíveis, sendo uma quarta considerada logo após – mas desnecessária para o estudo, conforme demonstrarei a seguir. Essas condições se referem ao grau evolutivo dos dois seres (posição na verticalidade) e sua determinação em evolver na vida (orientação do vetor velocidade). Dessa forma é possível, para facilitar a visão, estabelecer uma analogia com a cinemática, caracterizando as condições iniciais de um possível relacionamento entre um homem e uma mulher (por exemplo) a partir de suas condições iniciais: posição e velocidade. Estas duas ditarão a possibilidade de ocorrer uma união relativamente estável.

As condições são:
  1. Igualdade evolutiva e interesses conflitantes (igualdade evolutiva e descompasso no desejo ascensional);
  2. Igualdade evolutiva e desinteresse evolutivo (pseudo-alegrias na horizontalidade);
  3. Ligeira diferença evolutiva e interesse de ambas partes em evolver;
  4. Igualdade evolutiva e interesse evolutivo de ambas partes;

Acho importante deixar claro (novamente) que não pretendo me colocar ou classificar grupos ou indivíduos como mais ou menos evoluídos. Apenas constato que, com a mesma certeza e intensidade que creio na existência de diferentes graus evolutivos e todos tendem ao ponto máximo, absoluto (no Sistema, ou em Deus), também admito que a auto-classificação ou classificação dos outros é EXTREMAMENTE prejudicial e contraproducente para o convívio humano, e portanto é muito difícil avaliarmos nosso posicionamento e desejo ascensional, uma vez que somos seres mergulhados num Universo material, ou seja, imperfeito, e portanto relativo, possuindo verdades parciais do todo. Verdades incompletas.

Dessas quatro condições pode-se abrir um leque de possibilidades esperadas para cada uma delas. Eis como me vem à mente o divenire (vir-a-ser) de cada uma delas, segundo minha pessoa.


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Caso 1. Igualdade evolutiva e interesses conflitantes

Quando duas pessoas se encontram e possuem os mesmos valores, pode-se prever o que vai acontecer. Provavelmente elas frequentam os mesmos meios sociais e executam atividades semelhantes. Tem uma visão de mundo que pode ser diferente mas, analisado com mais cuidado (diálogo), revela-se semelhante em sua essência. E se não frequentam os mesmos meios, através da troca de informações acabam sendo levadas a conhecer lugares a atividades diferentes e desejadas, mas antes desconhecidas.

Estabelecida a relação tudo ocorrerá bem até o momento em que a cinática da horizontalidade sentirá uma força rival provinda da verticalidade. Isso se dará devido à diferença ascensional das partes: uma está contente com a vida que leva (de ambos); a outra gosta da mesma, mas sente um impulso que o induz a alçar novos patamares (cursos, estudos, vivências, modos de conceber o mundo, etc), se transformando lentamente. Essa diferença a princípio não era visível por nenhuma das partes, porque quando se conheceram julgavam a outra conforme sua natureza: a (ainda) adormecida viu nela outra adormecida (não era); a desperta, em transformação, acreditou encontrar outra alma em processo de trasnformação, ou que iria sofrer o mesmo processo breve (não ocorreu).

Quando o tempo de despertar não atingiu a intimidade do ser, de nada adianta exercer influência externa. Dessa forma, se o tempo para florescer e a paciência para esperar este forem muito espaçados, uma cisão se dá.

Às vezes uniões desse tipo duram muito tempo (anos) e são importantes, pois perceber a natureza do outro – a íntima e portanto mais poderosa – demora muito. Sua importância reside na inserção do desejo evolutivo num sentido e no desafio da paciência e copmpreensão no outro.

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Caso 2. Igualdade evolutiva e desinteresse evolutivo (pseudo-alegrias na horizontalidade)

Quando duas pessoas se encontram e possuem afinidades, existe uma chance boa de se unirem. Além disso, quanto mais alto o plano evolutivo em que se encontram, mais chance de ocorrer a fusão, pois menores as chances de diferenças na relatividade material (horizontalidade). Da mesma forma, quanto mais alto situado, menor a probabilidade de permanecer adormecido evolutivamente. Dessa forma este caso tanto mais se aplica quanto mais baixo na pirâmide evolutiva os seres se encontrem (ressalto que não é recomendável nos posicionarmos ou posicionarmos outros, apenas constato uma realidade que se revela a cada ano cada vez mais evidente).

Quando a união se dá, haverão grandes alegrias na vida. No entanto, estas são alegrias efêmeras na maioria dos casos, mesmo que não causem mal direto ao entorno ou sejam aparentemente saudáveis (os gozos da vida). É possível passar uma vida inteira ao lado de uma pessoa sem ambições evolutivas se você igualmente deseja permanecer na zona de conforto. O melhoramento causa muitas dores e há muitas incertezas. Logo, existe uma aparência de felicidade plena realizada entre seres nessa condição. No entanto, observando e constatando, percebe-se no olhar do casal uma frustração cuja causa é desconhecida. Às perguntas mais elementares que lhes são lançadas (se algum dia forem) os rostos emitem olhares perdidos e melancólicos, e os gestos e comportamentos trabalham para afastar esse tipo de situação, como se tratasse de uma tentativa de agressão. Mas os gestos e olhares não mentem...

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Caso 3. Ligeira diferença evolutiva e interesse de ambas partes em evolver

Este é o caso mais virtuoso e eficaz para desencadear o processo evolutivo, podendo transcender as fronteiras da relação, irradiando luz na forma de exemplos e vivências e gestos e posturas para o mundo que se relaciona e observa o casal.

As partes se conhecem e admiram o desejo ascensional (o idealismo) do outro, convertendo esse aspecto numa característica atrativa. Uma característica que, dependendo do estágio das partes, pode suplantar a forma material, tornando seu peso menor. Isso conduz a uma menor competição com o mundo e portanto menor aprisionamento numa forma mental separatista, não colaboracionista.

É importante destacar que o patamar de cada um (seus valores, idéias, concepções da vida, formas de sentir, pensar e atuar) deve ter uma diferença ligeira. Caso ela seja considerável ou grande, a possibilidade de vivência íntima se corrói e resta apenas uma admiração longínqua de um lado e um amor em ajudar de outro. Porque apesar das aspirações, a realidade momentânea é completamente diversa. Fé de um lado e amparo de outro.

Os dois seres, felizes por sentirem sintonia de vibrações energéticas e de pensamento, se abraçam e se aceitam, compreendendo a realidade do outro de forma mais fácil, e portanto entrando em menos conflitos e superando os mesmos mais facilmente. A vontade de se tranformar de ambos deixa ambos livres para buscarem se melhorar. Não se trata de uma liberdade gozadora-material, e sim uma liberdade evolutiva-espiritual, conduzida para fins mais altos, menos egoistas, que tende a ser compreendida. Confiança. Respeito.

Esse tipo de relação torna-se tanto mais concretizável e duradoura quanto mais alto na pirâmide evolutiva o casal estiver.

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Caso 4. Igualdade evolutiva e interesse evolutivo de ambas partes

Aparentemente o melhor dos mundos, o caso de igualdade evolutiva completa pode até ser interessante se essas igualdades consistem de diferentes habilidades e visões, que tendem a sofrer intercâmbio. No entanto, o desejo de algo a mais comum entre os dois, aliado a uma concepção orgânica do mundo, tende a inclinar cada uma das partes ao resto do mundo. Acima ou abaixo. Porque o verdadeiro ato de amor consiste em se sacrificar na elevação de alguém.

A princípio possível, o subir conjuntamente pode anular o sentido de existência dos dois. E quanto mais conscientes, mais rápido percebem esse egoísmo (mesmo que melhor do que muitos outros) travestido de altruísmo. Uma criança pode reverter a situação por representar uma possibilidade de auxílio e/ou aprendizado.

Sobre essa aituação cofesso não ter uma idéia clara. No entanto o completo alinhamento de interesses me parece um anulador da dinamicidade no casal. Não há conforntos construtivos. Tudo está compreendido e de acordo. Inexiste trabalho afetivo concreto a ser executado.

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Com esse ensaio pretendi, baseado em experiências e observações ao longo dos anos, descrever o que julgo ser a fenomenologia dos relacionamentos afetivos entre dois seres. Tracei as situações gerais e fiz uma descrição das possibilidades de cada uma. A partir desses conceitos acredito que uma pessoa possa desenvolver uma metodologia própria para conduzir sua vida, percebendo nuances que passam despercebidas pelo consciente da maioria, podendo assim evitar muitos erros e dores.

Creio que a conscientização dos fenômenos afetivos pode evitar muitas uniões desnecessárias e, se estas forem feitas, suas rupturas ainda podem ser mais suaves. O casal, a prole, a família, os amigos, os colegas de trabalho, as sociedades, as instituições, as comunidades, as nações e a humanidade, com menos erros e dores, poderão atingir fins mais elevados.

Por ora este é o esboço que me veio à mente. Ele pode ser equivocado em alguns pontos. Provavelmente incompleto. E – certamente – passível de ser aprofundado (em seus pontos certos...).

Resta ao leitor interessado desenvolver suas idéias e, se houver algo construtivo a modificar ou acrescentar, colocar à prova suas teorias e divulgá-las. 

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