Nada é mais difícil do que conhecer a fórmula para a libertação das amarras deste mundo. São vários caminhos que conduzem ao mesmo destino. Hoje esses caminhos parecem estar afastados. Aqueles que aparentemente se aproximam, sinalizam desenvolvimentos divergentes.
À medida que a nossa vida se desenvolve, adquirimos experiências. Mas a eficiência de aproveitamento delas depende muito do grau de consciência de cada um. A imensa maioria se situa numa faixa média, com um desvio padrão baixo, formando assim um corpo que sustenta uma estrutura sistêmica arcaica. Isso se evidencia a cada dia para aqueles que enxergam mais longe e concebem mais profundamente. Fica claro o fato de que estamos num momento histórico que nos convida a dar um passo para além daquilo que já foi feito.
Os saltos qualitativos na História se dão devido a saturações de formidáveis ideias, cujos golpes reverberam no longo e misterioso túnel do tempo. Quando é chegado o tempo de uma ideia, ela se consolida, independentemente da vontade dos egos humanos. Eis a força subjacente do fenômeno evolutivo.
A História não é linear. Não podemos projetar para o futuro meramente baseado no passado. "Isso nunca ocorreu" não significa necessariamente que algo pode não eclodir. Claro, muitas coisas podem não ocorrer. Mas devemos ter cuidado ao fazer uma avaliação universal, pois questões substanciais não estão sujeitas a essa regra. Podem retardar seu acontecimento devido às forças do Anti-Sistema, que deseja permanecer em seu estado de inércia com seus confortos miseráveis. Esses mistérios a ciência é incapaz de abordar de forma satisfatória, pois exige-se dela o que ela tem dificuldade em incorporar em seu método de estudo: o subjetivismo e a intuição. Não se trata de eliminar a objetividade, o empirismo e a razão, mas em inserir no seio do mundo um modo de agir que se relaciona profundamente com o modo de ser. Vitalizar o que perdeu seu brilho. Realizar o que sempre esteve escondido. Essa é a questão e o desafio. De nosso século e de todos outros. Mas que se apresenta de forma crítica em nossa época.
Num nível profundo, vício e virtude são manifestações diferentes de um mesmo princípio. Trata-se de uma força atrativa que mobiliza energia, tempo e vontade de alguém, que inspira a pessoa a fazer as coisas em prol de uma determinada visão de mundo.
O vício é uma obsessão que causa mal direto para muitos e até para aquele que o pratica.
A virtude é uma característica que na superfície é bela e elevada mas que, se intensificada ao máximo, leva o ser a desrespeitar outros vícios e outras virtudes.
Sob um prisma mais profundo, vício e virtude estão irmanados e trabalham juntos, se identificando em profundidade e se distanciando na superficialidade. Como nosso mundo vive e concebe as coisas superficialmente (intelecto de superfície, díade razão-instinto), classificamos uma como bem absoluto e outra como mal absoluto - em função de nosso sistema de crenças e valores particular.
Trabalhando-se bem um vício pode-se chegar a uma virtude.
Trabalhando-se mal uma virtude pode-se revelar um vício.
Tudo depende do grau de desprendimento (libertação) que temos em relação a algo.
Ser bonzinho não é sinônimo de bondade ou inteligência.
Mau não é uma essência, mas sim um estado. E todo estado é temporário e relativo.
A insensibilidade do bonzinho se revela quando seu sistema de crenças e valores é abalado profundamente, via questionamentos sinceros e ousadia inteligente. A partir daí conhece-se um pouco melhor a real natureza do ser. Eis que a vivência no mundo nos torna aptos a lermos o livro da vida cada vez mais profundamente, extraindo a essência de cada gesto, ideia e comportamento.
É comum que, ao considerarmos outras variáveis para avaliar uma determinada situação, nossa visão de mundo plasme. Se encastelado numa forma mental, a pessoa será reativa, se fechando, ignorando ou agredindo. É o método da avestruz, que enterra a cabeça no chão quando se vê em perigo, julgando que esse ato irá livrá-la do dito cujo. Se aberta, essa pessoa pode até sair "perdendo" (forte aspas!), mas sem dúvida conseguirá extrair a partir daí um manancial de sabedoria, elevando sua compreensão da natureza humana e infra-humana.
O ímpeto que originou esse ensaio se exaure. As obrigações do mundo drenam as atenções da criatura que aqui escreve. O lampejo de ideias se esgotou e agora resta deixar o produto do trabalho fincado em solo virtual, pronto para se espalhar pelos quatro cantos da noosfera*.
É importante difundir as bases de uma nova forma de pensar e sentir. É imperioso ser ousado e enérgico, expondo os próprios defeitos para sua natural correção.
Enquanto um só ou pouquíssimos embarcarem nessa aventura ascensional, o sistema não muda - e o tempo continua sua marcha inexorável...
É preciso que as pessoas passem a elaborar seus vícios e suas virtudes.
"...sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas" (Jesus, o Cristo)
Comentários:
* Para saber mais a respeito, ler o ensaio <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2019/08/da-biosfera-noosfera_28.html> e referência <https://consciencial.org/textos-extras/noosfera-consciencia-global-humana/>
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