sábado, 30 de agosto de 2014

CONQUISTA ESPIRITUAL, RENÚNCIA MATERIAL

O biótipo médio de nosso mundo possui uma dificuldade muito grande em compreender o significado da dor. Por possuir uma visão de curto prazo, materialista e analítica, sua conclusão desemboca numa interpretação de que o fenômeno da dor é um mal por natureza e deve ser evitado / eliminado a qualquer custo. E inúmeros inventos e descobertas e pessoas e lugares são feitos e buscados com base nessa premissa. Mas nunca se pensou em fazer uso da dor para nos melhorarmos interiormente - salvo raras exceções.

A riqueza externa é a maior armadilha do mundo em que vivemos. Ela é fortemente ilusória, dando uma quase certeza de realidade. Isso se deve, a meu ver, devido à falta de sensibilidade do tipo biológico que comanda e predomina neste mundo.

O que é sucesso e o que é fracasso é ditado numericamente. O grupo que possui maior força - porque compreende a necessidade de fornecer às massas o que seus instintos demandam - dita as Regras do Jogo. Quem vê a mais, é louco; quem imagina diferente, é desestabilizador; quem sonha é perigoso e se dá mal. Fato. Mas a questão é: por que se dá mal? E diante de uma pergunta tão fundamental as respostas caem sempre com precisão no mesmo ponto (ou nos mesmos pontos). E tudo permanece como está. Às vezes, dependendo da época e do meio, nem sequer um segundo de um minuto de grau de desvio na atitude é permitido. Rigidez espiritual num mundo materialmente dinâmico. O abrangente que engloba tudo (espírito) é engessado, enquanto o específico que engloba menos (matéria) corre livremente. Eis o porquê das constantes crises. Onde se encontra a sustentabilidade?

Ascensões Humanas. Livro
que aborda questões políticas,
econômicas, sociais, de saúde e amor
sob um panorama vasto.
Fugimos da dor. Com essa atitude infantil atrasamos nossa evolução. Porque ao evadir de uma situação que sempre se mostra presente o ser perde a oportunidade de se fortalecer e se sensibilizar. Sim, sensibilizar E fortalecer. Porque a sensibilidade bem orientada é uma arma poderosa para defesa contra palavras e ações. Logo, é força. Força discreta, elegante, inteligente e conduzida pela Moral, que é a inteligência mais sublime. E aumenta o valor das poucas riquezas exteriores, pois amplifica as interiores. Logo, necessitamos menos do externo. Que nos leva a querer menos do externo. E assim nosso desejo de entrar em lutas bélicas ou econômicas ou psicológicas decresce, e a energia passa a abundar, porque não é gasta em jogos que levam o ser a dar uma volta em torno de si mesmo.

Converter a dor em conhecimento é a arte da evolução. É ela que nos dará a orientação correta e a noção do que é verdade e sustentável. Assim que nos sensibilizarmos nossa "máquina" interior de conversão (dor → conhecimento → compreensão → paciência → atuação sábia) passará a operar. O aflorar dessa capacidade, levada ao limite, conduzirá o ser humano a um estado de felicidade ímpar. Mas o desenvolvimento é lento. Até para aqueles que se deram conta do caminho.

É claro que dada nossa constituição física, aliada à pouca fraternidade global adotada pela grande maioria de nós em diversos graus nos últimos anos, conduzem as pessoas a adotarem posturas aparentemente contraditórias à sua vontade. E às vezes ao seu discurso. Isso pode estimular críticas por parte de pessoas pouco aprofundadas ou desejosas de manter a ordem das coisas. Nessa situação essas pessoas encontrarão argumentos aparentemente sólidos que se apóiam na contradição entre prática e discurso. Mas devemos nos lembrar que a atual (des)ordem das coisas possui um autoritarismo travestido de liberalismo, que penaliza economicamente e (principal e intensamente) psicologicamente pessoas ricas ou pobres, jovens ou velhas, saudáveis ou doentes, homens ou mulheres, com ou sem diplomas, crentes ou descrentes. Ou seja, há certas atitudes e posturas saudáveis que não podem ser adotadas porque isso inibiria - a médio ou longo prazo - a consolidação de outras posturas virtuosas. Ou mesmo atrofiaria outras liberdades já conquistadas através de lutas incessantes. Daí se explica que construir o novo é uma tarefa dolorosa e solitária.

Toda conquista pede uma renúncia.

Toda renúncia consciente traz uma conquista interior.


Vale a pena.

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