quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Lawrence of Arabia

Como um épico de grandes proporções, se fez necessário contratar um elenco que estivesse a altura dos fatos e personagens históricos que seriam exibidos em tela e, além do mais, era mister que a vida de T.E. Lawrence fosse retratada de modo fiel. Para isso foram contratados historiadores afim de orientar as filmagens, e um mega-elenco foi colocado em cena. Nomes como Peter O`Toole, Omar Sharif, Claude Rains, Anthony Quinn, Anthony Quayle, Alec Guiness, Jack Hawkins e Mel Ferrer estavam presentes nesta produção de grande escala. 

"Lawrence of Arabia" (1962) de David Lean
Maurice Jarre, um compositor francês ainda muito jovem mas extremamente talentoso, foi chamado por David Lean para personificar o espírito do deserto em forma de música, e pode se ver claramente que a trilha sonora de “Lawrence da Arábia” virou um marco. É aquela melodia que não se esquece, fica ecoando em nossas mentes. Sim, da mesma forma que a própria personalidade de Lawrence. Isso era essencial.


Início. A tela está preta, não há imagem alguma impressa nela. Aos poucos começa a ser ouvida uma orquestra, a “Overture” do filme, - algo que o cinema atual deletou por se tratar de algo muito demorado e pouco lucrativo – e logo após se inicia a história propriamente dita, com a câmera fixa filmando Peter O’Toole – ou melhor, Lawrence – fazendo seus preparativos para realizar o que seria seu ultimo passeio de motocicleta. A partir do acidente, durante seu funeral, observamos um repórter fazendo pergunta aos que compareceram à cerimônia e num piscar de olhos voltamos para o início de 1916.

Agora, gostaria de comentar algumas coisas que me deixaram intrigado com essa grande obra.

Primeiro. Quando Lawrence e Dreyden estão conversando sobre a missão do deserto em uma sala, e o jovem inglês está todo animado e diz que será divertido tudo aquilo, vemos uma das passagens mais simbólicas da história do cinema quando ele sopra um fósforo e de repente nos é apresentado o deserto, a Arábia, através do horizonte (bela fotografia). É uma das passagens de cena mais belas e suaves já vista na história da Sétima Arte.


Segundo. O fato de que “nada está escrito”, como diria Lawrence ao howeitat (Sharif), ter sido colocado em prova durante a trajetória em direção a Àquaba é uma mensagem do diretor sobre o destino, a meu ver.


Vejamos bem. O garoto se perde durante algum momento da longa peregrinação e ninguém acredita ser possível existir um modo de mudar o que aconteceu, mas mesmo assim “El Aurens” (como diriam os dois irmãos da história) vai em busca deste e de um senhor no meio do Nefud, correndo o risco de se perder ou ser vencido pelo calor insuportável. Para surpresa de todos, principalmente do personagem de Sharif, o oficial inglês volta com ambos para o acampamento e causa um ar de superioridade.

O que parecia ser um milagre se torna apenas um atraso do inevitável: o homem salvo, pouco antes do ataque a cidade, participa de uma briga entre tribos e acaba assassinando um homem. Antes de saber quem é, Lawrence decide que ele deve punir o assassino por ser inglês e não incitar mais briga entre tribos. Ele acaba matando o mesmo homem que salvara. Depois, ao seguir para o Cairo com os dois irmãos, após a conquista de Aquaba, este mesmo garoto more na areia movediça. Ou seja, para mim, Lean quis dizer que aquilo que está escrito não pode ser alterado e a vida deve seguir seu ritmo natural. Achei muito interessante a forma de demonstrar isso. Fascinante!

Terceiro. O modo de abordar o personagem principal revela um cel. Lawrence interessado em lutar pelos árabes, pelo seu povo e sua cultura, o que de fato é muito provável ser de fato, pois o jovem oficial inglês era extremamente culto, tendo estudado história, arqueologia e línguas diversas a fundo, se especializando em cultura árabe (uma das razões por terem chamado o refinado Peter O’Toole para o papel). Mas após tanto lutar por uma causa, este percebe que foi manipulado, e em pouco tempo o novo país acaba caindo na mão das potências imperialistas da época: Inglaterra e França – e logo após, e até hoje, EUA.

Enfim, “Lawrence da Arábia” é mais que um filme. É uma sensação, uma mensagem, um mergulhar profundo numa das personalidades mais enigmáticas e fascinantes da História. 

Nós que Aqui estamos por Vós Esperamos

Era algum dia da semana do mês de Agosto. O ano: 2005. Eu estava saindo de uma aula de Resistência dos Materiais I junto com meus colegas e já havia planejado dar um pulo no Espaço Cultural Casa do Lago - um centro cultural da Unicamp - para assistir um filme nacional de um diretor novo chamado Marcelo Masagão: "Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos". Título longo, tema desconhecido...Mas fui! Era de graça mesmo e estava livre pelo resto do dia. Passada uma hora e meia cheguei à conclusão de que foi a atitude mais inteligente tomada por mim nos últimos tempos.

"Nós que Aqui Estamos..." se refere ao nome de um cemitério localizado no interior do Brasil. Os mortos (o aqui) esperam por nós (vós) pacientemente, pois não há nada mais certo na vida de que esta vá findar, cedo ou tarde, agradável ou desagradavelmente. Talvez o título sirva para nos alertar o quão importante seja a vida e o quão certa é a morte. Apesar disso, o ser humano foi capaz de banalizar ao extremo a vida ao longo do século XX, através de guerras, propagandas, alienação, destruição do meio ambiente e avanço tecnológico desenfreado. O filme de Masagão propõe uma reflexão sobre tudo isso, induzindo o espectador a buscar os porquês e o comos de tanta brutalidade.


A inovação do diretor está presente em toda projeção. A primeira delas está no fato de assistirmos ao longo de 70 minutos um filme-documentário mudo. Há apenas imagens de arquivo acompanhadas de uma - bela e memorável - trilha sonora, de Wim Mertens, com um piano e vozes que dão tom e intensidade aos acontecimentos históricos que permearam o século XX. A música se torna realmente um protagonista de peso, dando força e emoção a cada passagem.

A segunda inovação está no modo de abordar a História. Pessoas comuns cujos atos foram considerados insignificantes para os meios de comunicação e poderosos Estados, mas que juntas foram as únicas responsáveis por moldar toda a beleza e bem estar da humanidade. São os agricultores, mineiros, profissionais especializados, donas de casa, mães, crianças, artistas, pedreiros, alfaiates...uma infinidade de indivíduos, cada qual com seus hábitos, sonhos e pontos de vista. 

A terceira talvez seja a mais interessante. Colocar frases de pensadores famosos (filósofos, escritores, estadistas, artistas, cientistas, etc) junto a fatos históricos de peso. Essa combinação revela ter uma força tremenda e nos convida a rever os nossos valores. Ao mesmo tempo é uma pancada moral para os governantes do mundo - sejam estes do governo ou de empresas - porque questiona o modelo de progresso imposto por eles ao resto do planeta.

Existem inúmeros filmes com diálogos, efeitos especiais, astros (não atores) famosos e uma avalanche de outros recursos, mas vazios de conteúdo. Sem alma. Sem emoção. Sem nem capacidade de extrair uma risada natural do espectador. Em "Nós que Aqui Estamos..." as imagens falam por si. Não é preciso mais nada para atingir o espectador. A música de Mertens nos envolve do começo ao fim da projeção, de modo que passamos a ir além da audição. Passamos a senti-la. 

Raras vezes o Cinema nos brindou com uma obra tão original e sensível. Infelizmente o filme teve pouquíssimas cópias lançadas - talvez duas...ou três, com muita sorte... - e não é encontrado em nenhuma locadora, ou sequer passa nos canais por assinatura. Um pecado!

Trecho do filme:

Como Tocar (um pouco de) Piano sem saber ler Partitura ou Teoria Musical

Bom, pra começo de conversa, preciso deixar claro que não pretendo ensinar ninguém a tocar piano. Não sou professor nem formado em música. Até abril deste ano, nunca pus as mãos num instrumento musical. Minha única intenção é dar uma dica de como alguém que não sabe nada de música nem ler partitura pode aprender a tocar uma determinada música no piano.

Muito bem. A primeira coisa que você ver ter à disposição é acesso à Internet e um piano. A segunda e mais importante é: vontade. Sem ela dificilmente você conseguirá bons resultados em algumas semanas. Como por exemplo tocar uma música de 2 ou 3 minutos completa, com poucos erros. O que eu quero dizer é que aprender um instrumento exige dedicação, e ela só existe se a pessoa tem uma boa dose de vontade em aprender. Aquela coisa de ficar horas em frente a uma tela e um teclado (de piano) para conseguir muito pouco em troca deve ser algo prazeroso e com sentido.

Primeiro passo: escolha uma música. De preferência algo que você já tenha ouvido bastante e admire muito (que dê uma vontade IMENSA de aprender, de tão BELA que é).

Segundo passo: você se dedicará única e exclusivamente a aprender essa música - pelo menos de início. Concentração é algo muito importante nas primeiras semanas (depois, à medida que você for pegando jeito, pode variar de uma para outra com o fim de não enjoar).

Terceiro passo: entre no YouTube e veja se existe um tutorial para a sua música. Se sim, provavelmente o(a) professor(a) irá filmar o teclado e ir mostrando os trechos dela, vagarosamente, tecla por tecla, explicando o ritmo e as dicas. E nesse momento, para melhor registrar as notas, eu criei um sistema arcaico que faz uso do visual do teclado.

Eis como ele é montado:

- Desenhe um teclado (ver figura 1) numa folha A4;



- Nomeie as teclas (notas): dó ré mi fá sol lá si
Faça isso para umas 3 oitavas (isto é, 3 vezes, 3 repetições, para reproduzir boa parte do
comprimento do mesmo);

- Trace linhas verticais até o fim da folha (embaixo), cada uma partindo da linha de
separação entre uma tecla e outra;

- Trace linhas horizontais com um espaçamento que permita a inserção de 2 letras (uma
embaixo da outra);

O resultado disso se parece com a figura 2 que coloquei disponível.



Pronto. Agora você já possui a prancheta para anotar a sua música. Resta explicar a forma de ir registrando o que te ensinam no vídeo.

É bom simples. Vá aprendendo por trechos a lição. Vá dividindo a música em pequenas seções de poucas notas e para cada seção deve ser dedicada uma linha de seu diagrama.

Por exemplo, se a primeira seqüência que você observar for um,

DÓ - FÁ - SOL bemol - FÁ

Anote embaixo dessas respectivas teclas / notas musicais a números indicando a ordem em que elas devem ser tocadas: 1 embaixo do DÒ; 2 embaixo do FÁ, 3 (negrito) embaixo do SOL bemol; e 4 embaixo do FÀ. Nesse último caso escreva o 4 embaixo do 2 para não confundir (por isso eu sugeri deixar um espaço para caber pelo menos dois números na vertical. Veja a segunda figura para melhor compreensão.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
OBS: bemol é aquela nota preta entre duas brancas. Seu símbolo é um b pequeno. Ela é meio tom ACIMA da nota que a anterior. Por exemplo, Sol bemol é meio tom acima de Sol. Existe também o sustenido (cujo símbolo é um joguinho da velha). Ele é meio tom ABAIXO.

Então: 
bemol --> 1/2 tom ABAIXO
sustenido --> 1/2 tom ACIMA
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------

E assim você pode ir registrando, linha por linha, a ordem das notas que devem ser tocadas. A cada mudança de trecho, a numeração começa novamente (senão provavelmente tu chegue ao 80, 90, 100,...e além. o que é muito pouco prático).

É claro que esse método não é muito eficaz. Por exemplo, ele não te dá uma idéia dos tempos, algo fundamental para a harmonia musical.

Mas garanto que já dá pra se auto-impressionar. E - mais legal - se distrair por horas e horas e horas.

Boa diversão!

domingo, 27 de outubro de 2013

Quem nunca...

Quem nunca, em algum momento da vida, pensou em ser mais para si e para os outros?

Quem nunca, em algum momento de reflexão e solidão, pensou em alguém especial que conheceu?

Quem nunca, em algum momento de dor, pensou sobre como está levando sua vida?

Quem nunca, em algum momento de raiva, quis ser como um daqueles sábios calmos?

Quem nunca, em algum momento de abandono, pensou que deve existir uma criatura no Universo capaz de compreendê-la?

Quem nunca, em algum momento de privação material, pensou que a humanidade está endeusando um sistema insano?

Quem nunca, em algum momento de isolamento, pensou que suas atitudes são incompreendidas?

Quem nunca, em algum momento de doença, pensou que se escutasse os gritos de seu organismo, poderia ter evitado muitos males?

Quem nunca, em algum momento de incerteza, não pensou em abandonar algumas de suas ideias e ideais e sentimentos?

Quem nunca...

Quem nunca teve coragem de dizer o que pensa por medo da rejeição da maioria?

Quem nunca teve coragem de fazer a coisa certa por medo de perder seus status ou cargo ou dinheiro ou vida ou amigos ou tudo isso junto?

Quem nunca sentiu prazer ao ver um pôr-se-sol diferente?

Quem nunca sentiu um arrepio ao ouvir uma música profunda?

Quem nunca sentiu conexão com algo diferente, desconhecido, intocável e incompreensível?

Quem nunca quis ser mais e melhor na profissão?

Quem nunca pensou em abandonar o emprego por se sentir sufocado?

Quem nunca pensou em dizer “não” para o que sempre disse “sim” e “sim” para o que sempre disse “não”, porque tinha medo de se expor ao ridículo?

Quem nunca pensou em falar alto e claro sua opinião diferente diante de um mar de homogeneidade?

Quem nunca?

Por que então, com tanta coisa em comum, nós, humanos, solitários, com medo, com perdas e doenças, com desejos e vontades e sonhos e planos...por que não começamos a olhar pros lados e ver essas pessoas que sempre estiveram aí – às vezes por anos?
Por que não ARRISCAMOS um olhar ou um gesto mais caridoso?

Por que não abrirmos uma brecha em nossas almas para que possamos ser salvos de nossa loucura.

Por que não ESCUTAMOS os “estranhos” e “bobos” e “subversivos” e “fracassados”?

Por que não AVALIAMOS com mesmo rigor o que os “sucedidos” e “vencedores” e “legais” e “populares” dizem?

Por que nos recusamos a trilhar caminhos apontados como desvantajosos e errados pela maioria?

Por que?

Eu não sei...
Medo talvez. Ou inveja. Ou falta de sensibilidade. Ou...tudo isso junto e mais um pouco.

Será que não está na hora de colocar esses temas em pauta?

Estamos em 2013.

Já tivemos uma boa dose de mentes iluminadas que fizeram o favor de mostrar que existe
ALGO A MAIS – e foram mutiladas por isso...


Quantos ainda precisarão sofrer para que a maioria compreenda o caminho do Progresso?

Consumo versus Consumismo

Existe uma diferença muito grande entre consumo e consumismo. Enquanto o primeiro é algo natural e necessário não só para a manutenção da vida, mas também um meio eficaz para proporcionar bem-estar ao indivíduo; o segundo se caracteriza quando o primeiro cruza a fronteira do bom senso e passa a se tornar um fim em si. Ele passa a ser o objetivo final. A felicidade em si. Isso desestabiliza o indivíduo e a sociedade, tornando-a dependente de coisas fúteis.

Todos nós consumimos. Em termos naturais ou humanos. Sem esse fenômeno não estaríamos vivos.

Ao respirarmos estamos consumindo oxigênio, vital para nossas células, que o recebem através de nosso pulmão, que se comunica com o sistema circulatório. Assim as células "alimentam" nossos órgãos, e o produto final dessa troca é o dióxido de carbono. Eis uma relação de troca biológica.

Consumimos alimentos para mantermos a energia e nutrientes a título de executarmos atividades vitais. Nosso cérebro é alimentado energeticamente, consumindo a maior parte da energia que adquirimos através dos alimentos (eu por exemplo estou escrevendo esse artigo graças a isso). Isso é bom se aplicarmos todos os ganhos para um fim útil.

Síntese do comportamento humano predominante atual.
Nossas casas e meios de transporte consomem energia. Esta é empregada de forma direta e indireta. Direta porque utiliza-se combustíveis, eletricidade, entre outras formas de energia, para funcionarem adequadamente. E indireta porque é ela (energia, humana ou não-humana) que deve ser aplicada na superfície terrestre para deslocar os recursos naturais, transformá-los, conformá-los, transportá-los e reorganizá-los para a construção dos aparatos. Em suma, a vida é impossível sem o consumo.

Agora, a segunda questão é o consumismo, que é completamente diferente do consumo - apesar de ambos estarem relacionados. Ele é uma extrapolação do consumo. Passa a fronteira que separa o necessário / suficiente do supérfluo. Se seguirmos um modo de vida consumista tendemos a adicionar coisas desnecessárias à nossa vida. E a um custo que tende a se tornar exponencialmente alto. E mudar nossa percepção, pois sempre o mercado imprimirá em nossa mente de que "precisamos" de algo a mais. Nas propagandas o supérfluo se torna necessário. E ficamos presos.

As razões de abraçarmos o consumismo são múltiplas. Se por um lado somos induzidos "naturalmente" a comprar cada vez mais coisas que desconhecemos e não precisamos, por outro nos sentimos pressionados a adquirir bens que toda pessoa "normal" deve ter. Dessa forma temos a questão da inserção social e da criação de um significado para nossa existência através da ocupação de comprar itens ou serviços.

No mundo atual, devemos ter coisas que todo mundo tem para não sermos (ou nos sentirmos) excluídos. Quanto aos bens de luxo, é normal desejarmos eles - mesmo se nunca tenhamos condições de pagar por um décimo deles ao longo de nossas vidas. É uma espécie de ditadura. Só que essa ditadura é difusa. Como neblina. Está lá, mas não conseguimos pegá-la. Mas no entanto sabemos - ou temos uma intuição - que ela está lá. Exercendo sua influência.

Talvez a faceta mais destrutiva do consumismo esteja no fato dele tornar tudo - e todos(as) - consumível(eis). Temos um ótimo exemplo observando o fenômeno da mercantilização dos sistemas de saúde de muitos países. Isso vem gerando conseqüências perversas para o bem-estar da população que habita esses países, comprometendo uma maior parcela de sua (já escassa) renda para adquirir um bem que constitucionalmente deve ser universal, gratuito (considerando que já se paga imposto para isso) e garantido para todos. Para qualquer tipo de caso. Isso abriu portas para a conversão do Direito-Saúde em Mercado-Saúde.

Uma reflexão materializada nas ruas.
Quanto a outros bens (teoricamente) universais como Educação, Segurança Social, Segurança Física e Ciência e Tecnologia, a situação é semelhante. Dessa forma o cidadão comum se tornou um refém completo de grandes corporações.

Com a mercantilização da saúde, da educação e de outros serviços de proteção social, o consumismo passa a se impor para todos. Mesmo quem deseje (ou está) tendo sucesso em levar uma vida simples e sem preocupações materiais, a cada ano que passa - nas últimas 2 ou 3 décadas, pelo menos - seguir esse caminho ou ter esse desejo está se tornando cada vez mais difícil e desanimador, respectivamente. As fendas que possibilitam o crescimento do indivíduo como um ser se estreitam progressivamente, sem dar sinais de desaceleração - até que todas brechas estejam fechadas. O ser humano passa a ser condicionado a uma mera ferramenta de acumulação (trabalho alienado) e gastos (consumo doentio) para a própria subsistência, a título de alimentar um sistema (neoliberalismo) incapaz de gerar nada para o planeta a não ser instabilidade e dor em sua essência.

Num mundo sensato o ideal seria, uma vez atingido um grau de consumo satisfatório, buscar-se desenvolver ao máximo o SER com os recursos disponíveis.

Todo excesso faz mal.
O EQUILÍBRIO é pré-requisito para verdadeiro desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. E consumir por consumir não traz esse equilíbrio.

A Humanidade ainda se comporta como uma criança em idade pré-escolar que se recusa a crescer. Uma criança que, não aprendendo a usar brinquedos e fazer brincadeiras mais elaboradas, prefere se manter num nível primário, pois não consegue enxergar sentido em nada além daquele comportamento. Em suma: ela estacionou na existência.

Muitos já estão prontos para seguir adiante. Mas para isso se CONCRETIZAR a maioria deve se CONSCIENTIZAR do fato - cada vez mais visível.

Vamos seguir adiante?

sábado, 26 de outubro de 2013

Um Sonho de Liberdade

Tenho de admitir que não gosto de filmes ambientados na prisão. Ainda mais se são do gênero drama (mas drama em geral eu gosto). Mas ao assistir pela primeira vez o filme "Um Sonho de Liberdade" acabei por abrir uma exceção. Talvez porque não se trate de um filme de prisão, e sim de um filme ambientado na prisão. O seu tema é universal: o desejo de liberdade do ser humano, independentemente do tipo de prisão em que este se encontre - e, acredite, todos nós estamos em nossa prisão nesse mundo, queiramos ou não.

"Um Sonho de Liberdade" (1994)
As primeiras cenas mostram o prisioneiro Andy Dufresne (interpretado de modo convincente por um Tim Robbins ainda jovem) chegando á prisão de Shawshank. Aí começa a história trágica, e ao mesmo tempo inspiradora, de um homem condenado por um crime que não cometeu.

As primeiras semanas da chegada do prisioneiro Andy Dufresne são narradas do ponto de vista de um velho detento, "Red" (Morgan Freeman), que o observa cuidadosamente desde o primeiro dia. Sua descrição aguça a curiosidade do espectador. Sua fala é simples e sincera. Ele, ao contrário do novo "criminoso", é um detento comum, condenado por um crime comum. Nada mais, nada menos. No entanto, essa descrição um tanto minuciosa revela por trás um personagem dotado de uma curiosidade pouco convencional.

As semanas se passam e vemos o novo prisioneiro passar por dificuldades. Sofre assédios de um grupo, fica desorientado com a nova realidade que se apresenta diante dele. Num certo ponto chegamos a imaginar que Andy decidiu se suicidar. Mas após perceber as sutilezas de seus atos, nos damos conta de que isso não condiz com sua natureza.

A amizade vai se tecendo lentamente entre um grupo de detentos tendo como Andy o elemento de identificação e união do grupo. Mas isso não transparece. Inclusive ele se recusa a assumir qualquer posição de destaque no grupo, se preocupando mais em criar um universo diferente para ele e seus colegas, única forma de se manter vivo. Ou seja, edificando esperanças.

O protagonista dessa história é um homem estranho. Ele destoa (enormemente) da média. Seu modo de pensar é muito peculiar. Sua resolução, discreta e firme. Mas às vezes é ousado.

Andy e "Red" refletindo.
A cena mais poética do filme ocorre justamente num desses momentos de "loucura" de Andy quando, na sala do diretor da prisão, sozinho, ele decide colocar um disco de ópera. Duas sopranos cantam numa língua que os detentos nem imaginam qual seja (francês). De repente o pátio da prisão paralisa. Ninguém nunca tinha ouvido vozes como aquelas, dentro ou fora da prisão. Vozes suaves, angelicais. Vozes que atestavam a existência de outro mundo. Que de certa forma provavam que havia algo a mais neste universo aparentemente sem graça. Dessa forma Andy estava cumprindo uma espécie missão - de trazer a beleza da música para almas endurecidas e sem perspectivas. Mesmo que por um breve intervalo.

Todos nós deveríamos nos espelhar no personagem de Tim Robbins. Ás vezes precisamos de 2, 5, 10, 20 anos para conseguirmos nossa liberdade - de um relacionamento ruim, de uma condição social, profissional, etc. Mas só a conseguiremos tendo um sonho e edificando-o aos poucos. Dia após dia. Discretamente. E vivendo o presente da melhor forma possível. Como ele fez no filme.

Não é à toa que "Um Sonho de Liberdade" está classificado como um dos melhores filmes no IMDb ("Internet Movie Database"). Seu tema é tão universal e profundo que fará até as mentes mais conservadoras saírem de seu modo de pensar acomodado e/ou conformado.

A "tagline" não poderia ser melhor,

"Fear can hold you prisoner. Hope can set you free."

(O Medo pode te tornar prisioneiro. A Esperança pode te libertar.)

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Engenharias na UFABC - modelo do futuro

Quando entrei na faculdade em 2004 os cursos de Engenharia da UFABC estavam engatinhando. Eu nem sequer tinha consciência de sua existência. Mal sabia eu que, paralelamente ao modelo de ensino consagrado ao longo das décadas, que eu estava cursando, existia um outro completamente diferente se iniciando aqui no Brasil.

Me lembro dos anos de faculdade. Desde o início eu não estava contente com o modo de ensino. Especialmente de minha faculdade de engenharia mecânica, que era EXTREMAMENTE focada em disciplinas técnicas, com carga horária pesada. Isso impossibilitava ao aluno cursar disciplinas de outras faculdades e institutos, mesmo se ele fizesse mais créditos, pois havia uma reserva de vagas para cada disciplina, que era planejada de acordo com os programas de cada curso.

Logotipo da UFABC.
As poucas disciplinas diferentes que pude cursar estavam na grade obrigatória e aparentemente eram pouco valorizadas pela maioria dos docentes da faculdade de engenharia mecânica. Somente estavam lá para cumprir uma espécie de compromisso forçado. Para manter uma certa aparência de interdisciplinaridade. Pelo menos é o que me parecia. Eram matérias tidas como secundárias - ou nem isso. Para preencher cota. E (mais desalentador ainda) nas reuniões com a coordenação, anuais, que envolviam docentes e alunos, quando se tocava nesse assunto de diversificação da grade curricular, a coordenação não parecia levar o caso a sério. Além de verem isso como "manobra" de um grupo (dito preguiçoso) de alunos para aumentar sua média geral através da matrícula em disciplinas de língua estrangeira. Uma visão muito infantil e obtusa de gente que ocupa cargos importantes.

Toda essa experiência me deixou profundamente desgastado em certos períodos da faculdade, que em alguns semestres chegavam a ter 8 ou 9 disciplinas de engenharia, sufocando o aluno bom ou ruim. Era contra o bom senso. Contra a vida. Contra a saúde. E alguns professores simplesmente descarregavam a matéria nas salas de aula, ignorando o fato de que existiam outras disciplinas que estavam sendo cursadas simultaneamente. E que havia uma vida fora do meio acadêmico como: participar de eventos culturais, sair com os amigos, viajar até sua casa, pagar contas, tocar instrumentos musicais, ler, fazer compras, fazer outros cursos (fora e dentro da universidade), estagiar, viajar, se exercitar, estudar o conteúdo apresentado em sala, entre outras coisas. E ignorar esse fato acaba repelindo as pessoas da área.

É muito raro vermos uma pessoa que consegue passar pelo ensino básico, vestibular, cursar uma faculdade de engenharia, se formar, trabalhar com engenharia pela vida toda e sentir que valeu a pena. Raríssimo. Porque cada etapa desse processo é permeado de políticas de desestímulo - conscientes ou inconscientes - por parte de alguns professores, administradores e sociedade.

Conteúdo mal apresentado, horas excessivas de explicações desnecessárias, abordagens de assuntos sem se preocupar com a conexão destes com o resto do mundo: essas são as principais deficiências que encontrei no ensino de engenharia - que fiz. É muito desolador uma pessoa desejosa de crescer e ampliar seu horizonte se deparar com uma estrutura obtusa que se recusa a enxergar a realidade.

Conceito de Transdisciplinaridade.
O bom senso dos dirigentes de hoje se traduzirá nos livros de História como uma repulsa a enxergar as mutações da sociedade, e consequentemente do corpo discente (alunos), os verdadeiros edificadores de um novo mundo. Um mundo melhor, diga-se de passagem.

Existem iniciativas semelhantes ao redor do mundo. Há muitos anos esse tipo de estrutura curricular é implementado nas universidades norte-americanas (e o resultado é visível). Um engenheiro pode ser classificado como tal e ter passado metade de suas horas assistindo e participando de aulas de ciências sociais, filosofia, biologia, música, economia e letras. E me parece que a universidade não deixou de formar um engenheiro, e conseguiu - além disso - formar um ser humano pronto para dialogar com si mesmo e com a sociedade, buscando o melhor de si.

De nada adianta saturar alguém com detalhes específicos se essa pessoa dificilmente terá oportunidade de atuar em todas essas áreas. Esse vomitar de conteúdo só causará mais repulsão e desmotivação por parte do aluno - e perda de tempo, energia e imagem para o professor. O modo de operação da maioria das faculdades de engenharia atualmente é se aprofundar MUITO em quatro ou cinco áreas específicas (ex: termofluídos; mecânica das máquinas; controle; energia; materiais), e depois deixa-se o aluno fazer ou não uso delas. Isso não me parece racional. Muito menos saudável. Mas é o modelo imposto.

Não existe democracia nos governos e nem nas salas de aula. E
la só está nas propagandas.

Por quê não diversificar a grade curricular e permitir a formação de um ser humano pluridisciplinar? Especializado sim, mas com menos ênfase.

Minha proposta é muito simples. Mas antes de apresentá-la, preciso demonstrar que o ritmo psicológico do SER humano está em desacordo com aquele ritmo imposto pelas escolas, sociedade, família e universidade.

Muitos são os casos de pessoas que, após se graduarem ou especializarem numa área, buscam (desesperadamente) fazer algo COMPLETAMENTE diferente na sua vida profissional. Trabalham um tempo (às vezes muito) e abandonam tudo em busca de um sentido para suas existências. Não necessariamente porque detestam seu “métier”, e sim porque foram saturados de conteúdo desconectado com outras áreas e sua própria vida. O resultado é um só: desgaste precoce. Eles não buscam se “desviar” do caminho, e sim VOLTAR ao caminho natural.

A maioria das escolas e universidades não formam seres humanos orientados para atuar num mundo cada vez mais interconectado e diverso, que exige soluções criativas e mente aberta. Elas formam gente que deve ter uma mente (e vida) departamentalizada e portanto com pouco TEMPO LIVRE e ENERGIA para o exercício de atividades CRIATIVAS. Porque a grande maioria das corporações (as grandes sobretudo) operam dessa forma. E sendo assim, elas ditam – via propaganda e se infiltrando nas cadeiras dos poderes legislativo, executivo e judiciário – como o sistema deve operar. Desde a sua base: a infância do ser. E pode-se observar que esse modelo não atende mais aos anseios da sociedade, que deseja o progresso mas não sabe como caminhar em direção a ele. Abra o jornal e observe. É tudo consequência de uma má formação. Desde o início.

Bom, para resolver esse problema me parece que a primeira coisa a fazer é convencer as pessoas imersas nesse modelo (arcaico) a “escutarem” seus sentimentos. Ao ler qualquer texto que proponha uma reflexão – como esse – devemos refletir sobre o nosso modo de vida e tentar buscar soluções ,e trazer esse assunto à tona sempre que possível. Mas apenas as mentes preparadas estarão abertas à discussão. Portanto – e infelizmente – RARAMENTE poderemos abrir nossas mentes para pessoas em cargos de poder. Eles já estão muito imersos e portanto condicionados a esse modelo. E corremos o risco de que usem nossas ideias para nos prejudicar, distorcendo-as e nos taxando de subversivos e coisas do tipo. Isso é triste, pois – em tese – a sabedoria deveria ser proporcional ao poder do cargo ocupado em nossa sociedade.

Outro ponto: naturalmente, com o tempo, creio que veremos os maiores progressos sendo gerados por mentes com visão holística do mundo. Essas pessoas provavelmente serão mais espiritualizadas. Isto é, terão uma orientação para riquezas intangíveis como, por exemplo: conversas, convívio, natureza, estudos, contemplação, etc. E consequentemente serão pessoas agradáveis de se ter ao lado, pois elas, além de dominar os conhecimentos e métodos materiais consolidados, acreditam em algo mais elevado e se interconectam com o ambiente e o mundo mais facilmente. As pessoas e os seres são mais transparentes para esse tipo de pessoa. Sua visão é mais global. Tudo que vem ocorrendo reforça essa visão.

O ser humano, tendo liberdade para buscar o conhecimento e a sabedoria, será mais feliz. Haverão menos desistências dos cursos. Formaremos melhores profissionais. Engenheiros não serão bitolados; Médicos estarão mais em contato com os pacientes; Cientistas terão mentes abertas para o imaterial; e etc.

Eu falo tudo isso porque eu vivi tudo isso e venho sentindo uma necessidade cada vez mais urgente de redirecionar minha vida para algo mais saudável e criativo. E ajudar outras pessoas a se encontrarem (eis porque venho me fascinando com o tema de Eduação ultimamente).

Convido aqueles que aguentaram ler até aqui a se ajudarem e ajudarem os outros nessa jornada por uma formação mais humana.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Poder Sutil dos Espaços Públicos

Muita gente encontra um pouco de felicidade quando menos se espera. São pessoas que usualmente não se manifestam de acordo com sua natureza em ambientes onde se espera que ajam naturalmente. Porque são seres com modos de agir e sentir muito particular e, apesar de serem às vezes (muitas vezes) forçados a agir "normalmente", porque "as coisas são desse jeito", das duas uma: ou se conformam à (triste) realidade, traindo sua essência em detrimento de uma menor perseguição ou sondagem; ou se adaptam, mudando algumas coisas ou evitando certos ambientes quando podem, continuando sendo vistas como estranhas e com alguma patologia. E, o mais triste de tudo: muitas pessoas assim passam grande parte - ou toda - de suas vidas sem poderem fazer o que gostam porque nunca tiveram uma orientação adequada da família ou da sociedade, nem tiveram tempo suficiente. Mas existem lugares adequados para esses tipos.

Desde que me formei resido em minha cidade (praticamente) natal, SJC. E por me encontrar numa situação material relativamente confortável - em relação a muitas pessoas miseráveis desse mundo - venho tendo uma certa disponibilidade de tempo. Essa vantagem provou ser particularmente útil pra mim porque, na minha opinião, esse tempo foi muito bem empregado. E sem necessidade de grandes gastos.

Venho frequentando espaços abertos como parques e centros culturais. E posso atestar que, em um período de três anos, conheci e fiz amizades dos mais diversos tipos nesses lugares. De classes sociais, raças, faixas etárias, gêneros, escolaridade e gostos de todos tipos. Ontem mesmo, por exemplo, ao ir ao Parque Vicentina Aranha fazer exercícios e depois tocar um pouco (do pouco que sei) de piano, me deparei com um rapaz que estava tocando o instrumento de forma agradável. "Não sei ler partitura. Aprendi tudo ouvindo e por meio desses tutoriais na internet.", ele me disse, quando perguntei sobre sua formação musical. E trocamos idéias sobre música e outras coisas.

O caso do parque foi apenas um entre dezenas que ocorreram ao longo dos últimos meses. E dessas dezenas, uma parte considerável se tornou mais do que simplesmente um conhecido - ou mesmo um colega. Fiz verdadeiras amizades. Pessoas igualmente livres, que agiam de acordo com sua essência, foram aparecendo com o passar dos meses.

Gente que me escutava, que não tinha preconceitos, me convidava para ir a lugares e não tinha medo de gritar no meio da rua para me dar um simples "oi". E que compreendiam e aceitavam o meu jeito de ser. Para retribuir à altura, eu também procurei escutar, ouvindo seus problemas e sonhos e idéias; cumprimentar; ajudar e compartilhar um café de vez em quando.

É claro que é possível fazer amizades (e grandes) em ambientes institucionalizados. Eu mesmo consegui fazer muitas e boas. Mas a questão é que nesses ambientes sempre existe uma pressão invisível que inibe a manifestação do ser, por motivos materiais. E a interação entre tipos diferentes sempre fica reduzida por motivos de obrigações, ou para não desagradar a maioria dominante, que usualmente (e infelizmente) apresenta um pensamento e comportamento que em sua essência não tolera o diferente. Ou melhor, que o tolera até um grau dito aceitável. E não se pode manifestar a sua opinião abertamente, por mais argumentos e capacidade de sintetizar uma ideia que você tenha, pois existe o risco de uma espécie de exclusão que sempre permeia ambientes institucionalizados. Isso felizmente não existe em espaços públicos. Por que? Porque existe LIBERDADE.

Mas talvez o mais fascinante em buscar alternativas desse tipo é que essa própria busca é uma espécie de luta contra o sistema vigente. Luta pacífica, não-agressiva. E resistência. Resistência prazerosa para o ser sensível. E imperceptível para os gigantes do negócio. Muitos ganhos para a alma, pouco gasto e preenchimento do tempo de forma útil.

Ao imprimirmos nossa personalidade em espaços abertos descarregamos as tensões do cotidiano - permeadas por longas e exaustivas jornadas de trabalho e dívidas infindáveis - de uma forma saudável. E passamos a existir para alguém. E outros passam a existir para nós. E se trata de um fenômeno dinâmico, que vai metamorfoseando com o passar das semanas, meses e anos. Seguimos uma trajetória circular. Mas ascendente. Como uma mola que, a cada volta em sua trajetória, sobe um pouco na vertical.

Diversão, estudo e trabalho não estão necessariamente atrelados a gastos altos, sofrimento e confinamento, respectivamente. Na verdade, para a pessoa consciente e com alguma meta firme na vida, essas coisas podem se manifestar de forma mais construtivas no espaço público. E essas pessoas, para poderem usufruir desses espaços, necessitam de um certo tempo para se desenvolverem neles. E energia.

E já estudei a História humana repetidamente. E pelo que percebo vejo que a melhor forma de sermos uma sociedade centrada no sócio-cultural e na democracia (no verdadeiro sentido da palavra) é nos conscientizando internamente. Trabalho interior antes.

Quem já sabe, que continue o caminho, dando o exemplo. Não há nada de atraente no modo de vida material. Por mais que pareça, é tudo mera ilusão criada por uma elite alienada e poderosa.

Vamos para as ruas viver e valorizar a vida.

A Ditadura Pulverizada

Os filósofos gregos teorizaram que uma ditadura poderia ser o melhor tipo de governo se (e somente se) o ditador fosse uma pessoa verdadeiramente sábia. O problema é que até hoje não houve um caso desses - e provavelmente nunca haverá...pelo menos enquanto nosso mundo for atrasado do jeito que é. No entanto, mesmo que uma situação desse tipo ocorresse, será que bastaria termos um sábio com poderes totais? Quero dizer, se a população estivesse (em sua maioria) longe do nível intelecto-moral desse tirano sábio, será que ela aceitaria um governo justo, julgando-o realmente como tal? E - segunda questão - não seria contraditório se uma pessoa verdadeiramente sábia assumisse o poder por tanto tempo? Como se vê, essa é uma questão complicada. Mas não desejo discorrer sobre esse assunto, e sim as formas que uma ditadura pode assumir.

Um governo ditatorial é autodestrutivo a longo prazo. Ele liberta uma parcela minúscula da população para aprisionar uma massa de pessoas. E usualmente coloca no topo da pirâmide uma pessoa (ou grupo, que nesse caso caracterizaria uma aristocracia) inapta para desenvolver o conjunto da população e se auto-sustentar.

"The Corporation" (documentário)
Durante o século XX vimos o advento de grandes estados totalitários. Fascistas e comunistas. E enquanto o primeiro tipo tinha fins e meios destrutivos, o do segundo tinha fins construtivos, mas os meios de atingi-los eram destrutivos. Ou seja, impossibilitava a chegada nesse fim. Dessa forma a humanidade conheceu duas formas de governo diferentes que não se sustentaram porque não eram coerentes na sua integridade. O primeiro era autodestrutivo a médio e longo prazo e o segundo não soube trabalhar com os meios para chegar aonde queria. E dessa tentativa mal sucedida o sistema vigente (capitalismo) se manteve, se firmando como a única alternativa viável para a evolução. Mas como podemos ver, ao abrir os jornais e perceber a vida das pessoas à nossa volta (e as nossas próprias), essa "única alternativa viável" parece estar se esgotando rapidamente. E o motivo desse esgotamento é bem simples: nós ainda vivemos sob um regime ditatorial. Só que a diferença entre a ditadura antiga e a nova é que esta assumiu uma nova forma, muito discreta e (portanto) letal.

Se hoje na maioria das democracias Ocidentais não precisamos combater Estados totalitários, temos o dever de combater as ditaduras presentes em nossas corporações e instituições não-governamentais que detém algum poder. Mas isso se torna difícil porque, mesmo quem tem consciência do que ocorre, não se sabe exatamente o quê combater. Ou como. O inimigo (ditadura) está pulverizado na sociedade e suas instituições privadas. E digo até mesmo que ela está inserida nos indivíduos - sim...em nós.

Quando temos de combater o autoritarismo que pode estar dentro de nós mesmos, começamos a perceber o que Cristo quis dizer ao falar de Reforma íntima. A mudança de nosso ser é o primeiro passo para a verdadeira revolução sócio-cultural de que este planeta tanto anseia inconscientemente. E devemos dar exemplo disso. Sermos firmes.

É muito complicado combater um mal que não se vê. Mas se começarmos a pensar um pouco, podemos reparar nas características que denotam a existência de uma estrutura ditatorial em nossa sociedade. Existe um crescente (e famoso) culto aos "líderes" em diversos meios corporativos. Muito semelhantes aos cultos do século passado. Só que dessa vez travestidos com uma roupagem aparentemente sustentável, elegante, amigável, limpa, honesta, futurística - e outras inúmeras características do tipo. E são várias as roupagens, de modo que existem diversas camadas que escondem a verdadeira essência desse tipo de prática. É preciso pensar e estudar bastante disciplinas mal vistas ou desprezadas em muitos meios onde o lucro é uma divindade (como Sociologia, Filosofia, História e Arte). Mas isso nunca é nem será dito em voz alta ou oficialmente, claro. Soaria muito rude e autoritário.

Francisco Franco
A neo-ditadura assumiu o comportamento de um câncer: ela se espalha por todo organismo saudável, se instalando em cada canto psicológico onde existe uma brecha. Essa brecha surge a partir do momento em que o indivíduo perde a capacidade de refletir. E, ao contrário do que se pode pensar, isso ocorre quando temos mais certezas do que dúvidas. Ou, em outras palavras, a partir do momento em que deixamos de questionar. E ao se espalhar em diversos campos da mente e setores da vida, fica difícil identificar a enfermidade. Tendemos a prejudicar atitudes ou hábitos bons tentando acertar esse câncer.

A melhor maneira de combater esse câncer, essa neo-ditadura, é através da rejeição dos pseudo-valores que ela prega: culto a carros, condomínios faraônicos, mulheres-objeto, homens-objeto, eletroeletrônicos que sequer precisamos, viagens milionárias, restaurantes de preços surreais,...uma vida surreal enfim. E voltarmos nossos olhares para o verdadeiro mundo: o conhecimento, as relações humanas e a sabedoria.

Dai a César o que é de César”, disse Jesus numa de suas parábolas. Pois entreguemos aos insensatos que fomentam o capitalismo o que lhes é devido.

Quando as pessoas tomarem consciência das verdadeiras riquezas da vida, as ditaduras começarão a ruir sem a necessidade de esforço algum. De nenhum grupo e de ninguém. E um novo modelo politico-econômico finalmente terá terreno para florescer.

Por isso acredito que seguir a receita de estudar muito e nunca fazer mal a ninguém.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Por que Eu Acredito em Deus

Antes de começar eu gostaria de deixar claro que não tenho nenhuma espécie de preconceito contra nenhuma religião ou agnósticos ou ateus. Inclusive tenho um profundo respeito pela crença e não-crença (que no fundo pode ser encarado como uma crença) de cada um e uma. Se a pessoa pratica o bem e evita que o mal se propague, isso é o que interessa. Se a pessoa, além disso, está sempre em busca da verdade e está aberta ao diálogo, ótimo. Quem me conhece sabe bem isso.

Quero deixar claro que não desejo impor meu ponto de vista a ninguém. Não detenho a verdade e meu raciocínio – sem dúvida – pode ser contestado. Apenas estou justificando o que me faz crer que um ser de ordem superior existe.

Dito isso vamos lá.

Leonardo Pisano (Fibonacci)
A primeira ideia que me vinha à mente quando eu ainda tinha dúvidas – sobre a existência de uma Inteligência Suprema – era s seguinte: “Oras! Se existe ser de tal magnitude, então por quê Ele não aparece diante de nós?”. Ou: “Se não posso vê-Lo ou ouvi-Lo ou senti-Lo, então não existe.” E variações do tipo. Mas essas afirmativas podem ser contestadas sem necessitarmos de muito raciocínio.

Até o advento do microscópio óptico a humanidade desconhecia as bactérias e seres de tamanhos milimétricos. Criaturas que causaram várias mortes ao longo da História. Tidas como inexistentes antes da Ciência provar que seres desse poder e tamanho existem. O mesmo pode-se dizer do átomo. Quem diria que existem particulas infinitesimais, que são a matéria-prima de tudo e todos no mundo material? Antes do advento do microscópio eletrônico nada poderia ser dito.

Outro ponto: o fato de não vermos algo não significa que esse algo não existe. Por que? Simplesmente porque sabe-se que o olho humano não capta todos espectros de luz. Nem todas frequências de sons – nos limitamos na faixa dos 20 aos 20.000 Hz...e essa amplitude diminui um pouco com a idade, como os senhores e senhoras de idade bem sabem. Ou seja, nossos sensores – nossos cinco sentidos – são limitados. E também não existem garantias de que não possam haver outros tipos de sensibilidade.

Quantos fenômenos que a humanidade julgava impossível a Ciência desvendou nos últimos séculos. E quantas relações entre áreas do conhecimento estão sendo estabelecidas nesses dias. Muitas coisas foram e estão sendo descobertas.

Mas tudo isso, apesar de não provar a existência de Deus, derruba ou enfraquece a grande maioria dos argumentos sobre a sua inexistência.

Espiral de Fibonacci.
Agora, o porquê da minha crença.

Há aproximadamente 800 anos existiu um matemático conhecido como Leonardo Fibonacci (meu xará!), também conhecido como Leonardo de Pisa. Foi tido como o primeiro grande matemático eurpoeu da Idade Média. Ele inventou – ou melhor, descobriu – uma sequência que acabou levando o seu nome: A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI.


Fórmula de Fibonacci.
Essa sequência é bem simples. O primeiro termo é zero. O segundo um. E a partir do terceiro, deve-se somar os dois termos precedentes. Nesse caso o termo n3 é 1;

o n4 é 2 (1+1);
o n5 é 3 (2+1);
o n6 é 5 (3+2);
o n7 é 8 (5+3);
o n8 é 13 (8+5);

Ou seja: 0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144,...

E essa sequência...o que tem de tão interessante?, você deve estar perguntando.

Dentre suas características, ela descreve algumas coisas da Natureza. Como a reprodução de coelhos, que segue essa progressão.

Mas os coelhos não são tão interessante quanto as outras observações.

Se formarmos um retângulos cujos lados tenham comprimento equivalente a dois números consecutivos dessa seuqência (quaisquer números, desde que seguidos um do outro), e dividirmos esse retângulo em quadrados cujos tamanhos seguem a sequência – a para menos e para mais – pode-se traçar um arco ligando os pontos médios de cada um. Será formada uma espiral (veja o vídeo http://www.youtube.com/watch?v=VwGoW1KvdXs ).

A espiral em si não é de grande interesse.

O fascinante dessa forma é que ela está presente em milhões de espécies e objetos inanimados. Na Natureza. Tudo (ou muitas coisas...milhões) não feito pela Humanidade possui em sua geometria a Sequência Fibonacci.

Conchas do mar, girassóis, a orelha humana, as ondas do mar, plantas, galáxias,...Uma infinidade de coisas tem uma “assinatura”. Um padrão presente neles. Diferentes. Muito diferentes entre si. Mas com uma coisa em comum. Uma característica que respeita uma Ordem. Algo em comum. Algo que une tudo e todos (não é fascinante?).
Será uma coincidência, alguns podem dizer.

O Girassol respeita a Sequência.
Bom. Vejamos bem. Se for uma coincidência, pode-se assumir que – primeiro: é (ou seria) uma GRANDE COINCIDÊNCIA milhões de fenômenos e seres respeitarem exatamente a mesma sequência (basta saber um pouco de Probabilidade para se conscientizar disso).

Assumindo que de fato se trata de uma coincidência, não seria tolo afirmar que aqueles políticos que ganharam 150 ou 200 vezes seguidas na loteria tiveram a coincidência de acertar a sequência de números. Ou seja, são apenas sortudos...Claro que qualquer pessoa que já tenha aprendido e pense um pouco sabe que se trata de algo praticamente impossível (até acertar 1 vez é difícil). Ou seja, quando essa notícia vazou nos meios de comunicação, sabe-se que esses “acertos” foram causados por uma inteligência por trás. Alguma pessoa – ou grupo de pessoas, ou aparato, ou informação, ou coisa do tipo - agiu para que isso ocorresse. Da mesma forma podemos (seguramente) aplicar esse raciocínio com a repetibilidade da Sequência de Fibonacci na Natureza.

Dessa forma, nos vemos diante do seguinte dilema: existe um padrão em milhares de milhares de espécies e fenômenos na Natureza, que estão aí, diante de nós. Precisos como nossas máquinas jamais serão. Sem a nossa intervenção.

Sabe-se também que nós, humanos, criamos empresas que fabricam bens de consumo. E que os bens de consumo de uma empresa em particular geralmente tem uma característica que diz: “esse produto é da empresa X porque tem Y”. Certo? Para carros, aviões, geladeiras, fogões, talheres, móveis, casas, mesas, alimentos, bebidas, etc, etc. Querem caracterizar a marca. Querem dizer que aqueles produtos são os seus filhos.
Essa característica também pode ser aplicada ao fenômeno da Sequência de Fibonacci na Natureza. Me parece muti lógico.

As Galáxias respeitam a Sequência.
Logo (e finalmente), nós, Humanidade, nos vemos diante de uma séire de padrões que indicam algo MUITO PROFUNDO. Tão profundo que não podemos ignorá-los ou derrubá-los. Tão profundo que, quanto mais o observamos, mais nos fascinamos por ele. Tão profundo que possivelmente só descobriremos sua verdadeira origem no fim dos tempos. Tamanha é a grandeza que os tenha criado.

É muito difícil acreditar no acaso numa hora dessas.

Para mim parece ser a assinatura de um Arquiteto.

Tão perto e tão longe de nós, humanos.