A
continuidade e agravamento das tensões e conflitos sociais ao redor
do mundo parecem nos dizer que algo não vai bem. A Primavera Árabe,
a derrubada do governo na Islândia, a xenofobia européia, os crimes
nas escolas se proliferando (virando moda), os protestos sociais no
Brasil. Etc. Parece que existe muita injustiça social. Que existe
algo que não vai bem. Que existe pouca democratização da cultura e
muito controle sobre a vida das pessoas. Controle dos Estados e
Corporações - que tem atingido dimensões de Estados.
Através
da ciência sabemos que não existe efeito sem causa. E através do
estudo das religiões sabe-se que isso se estende para o campo moral.
Mas ter a consciência disso é apenas o primeiro passo para
resolvermos um problema.
É ainda
muito comum neste mundo seres humanos em cargos de poder atacarem
causas secundárias ou terciárias de um problema (ou nem isso)
visando sua solução. Nada mais ineficaz e infantil, na minha
opinião. E é comum eles afirmarem que estão resolvendo - ou
resolveram - eficientemente um problema. A criminalidade, por
exemplo, é um setor problemático tratado dessa forma: prende-se e
humilha-se qualquer suspeito - pobre, não-caucasiano e sem fama, de
preferência - sem se pensar em sua reinserção na sociedade. E
muito menos se pensa em dar condições dignas para todos desde a
mais tenra infância, o que poderia muito bem evitar milhares de
casos graves de criminalidade. Estas condições dignas são
privilégio de classes altas. Resultado: a questão criminal é
realimentada positivamente gerando efeitos cada vez mais
catastróficos. Ano após ano.
O modo
de (não) atacar o problema descrito anteriormente pode ser estendido
a todos setores da sociedade, cada vez mais problemáticos nesses
tempos líquidos (como diz Baumann). Pode-se perceber que num mundo
sensato, os dirigentes mudariam a essência de sua tática de combate.
Mas neste mundo ocorre o contrário: aumenta-se a intensidade do
ataque na mesma direção. Aperta-se a mesma tecla, com mais força.
E às vezes com mais freqüência, o que só piora a situação,
gerando uma instabilidade crescente. Pura burrice ou egoísmo por
parte de governos e empresas. Ou melhor, pura burrice E egoísmo, já
que o egoísmo é burro e a burrice é egoísta.
Leonardo Boff (1938- ) |
Eu tenho
o hábito de dizer que o sistema político-econômico vigente numa
sociedade é aquele compatível com o nível intelecto-moral desta.
Sob esse prima o capitalismo foi útil para a produção eficiente
dos bens materiais até hoje. No entanto, não posso afirmar o mesmo
a respeito da difusão desses mesmos bens. Tampouco na difusão da
cultura e no desenvolvimento moral do indivíduo.
Quando
uma criança é jovem, deve ter certos brinquedos e se alimentar de
tal forma que os nutrientes e quantidade dos mesmos sejam adequados à
sua fisiologia. No entanto, à medida que esta criança cresce, os
brinquedos (que foram importantes para sua formação) e a
alimentação (que foi importante para seu desenvolvimento) muda.
Novos objetos e objetivos dão lugar a antigos. Novas experiências
surgem. E assim ela se desenvolve de modo saudável.
O
capitalismo foi um "alimento" que desenvolveu a humanidade
- embora eu acredito que ele pudesse ter sido mais fraterno. mesmo
sob sua ótica. Mas esse é um modelo que vem se esgotando, pois sua
essência não é capaz de lidar com demandas cada vez mais
crescentes e intensas de qualidade de vida, justiça social e
valorização de riquezas intangíveis. Ele coloca o lucro como fim.
E quanto mais ele se desenvolve, mais recursos drena do ambiente
(matéria, seres vivos e humanos). Essa é uma política que não se
sustenta a longo prazo, e o único meio de ir levando um sistema
esgotado assim é revesti-lo com mantas que não exprimem sua
verdadeira natureza.
Tomemos
a Europa Ocidental e os EUA como exemplo. Muitos podem afirmar que
são países ricos com muita qualidade de vida. É verdade. Mas o
custo dessa qualidade de vida para o resto do planeta foi e é muito
alto. Principalmente em termos de vida e saúde para habitantes de
outras regiões do planeta. Ou seja, trata-se de um
pseudo-desenvolvimento. Um parasitismo. Um "desenvolvimento"
à custa de povos e territórios adjacentes e distantes.
Insustentável a nível planetário.
Bertrand Russell (1872-1970) |
Da mesma
forma, os Estados "socialistas" do século XX parasitavam
recursos de outros povos (e de seu próprio povo), alienando as
mentes e moldando os corpos a um modo de vida incompatível com a
natureza humana, que prima pela liberdade e livre expressão. Eram
governos que se travestiam com bandeiras sociais, mas que em sua
essência estavam centradas no capital. Só que este, ao invés de
correr livremente, se concentrava nas mãos de um partido, ou seja,
seus membros, e poucos grupos privilegiados - colaboradores em sua
essência. Um modo de operar semelhante ao que ocorre na grande
maioria das corporações de nossos tempos neoliberais, diga-se de
passagem. Só que nestas não existe um foco de poder a ser
combatido. O controle está pulverizado, de forma que o combate dele
se torna muito mais difícil. Mesmo porque sua identificação não é
fácil.
Eu diria
que o mal feito por Mao, Stálin e outros líderes autoritários do
século XX à idéia do socialismo é semelhante ao mal feito pelas
Igrejas à Cristo e sua mensagem. Ou seja, são ditadores e
instituições que fizeram uso de idéias e divindades para impor sua
vontade e acabaram como conseqüência afastando as pessoas da
religião e das políticas e governos de cunho mais socialista. É
claro que no caso da religião o efeito demorou muito mais para ser
rejeitado. O crescimento do número de ateus, por exemplo, começou a
aumentar no século XIX, após séculos de crimes e abusos cometidos
em nome de Deus, que não condiziam com a sua infinita sabedoria
bondade. Conseqüência: pessoas muito inteligentes e esforçadas na
prática dos ensinamentos morais passaram a vincular a Igreja - e às
vezes muitas das entidades que ela dizia seguir - a uma instituição
de alienação. O mesmo ocorreu com os conceitos de socialismo
durante sua experiência no século seguinte.
Apesar
de toda propaganda negativa ao longo da História, não vejo o porquê
das pessoas abandonarem a idéia original e tentarem aplicá-las em
suas vidas dando o exemplo. O problema está justamente no excesso de
propaganda recebida por parte da mídia, família, (muitas) escolas e
(grande parte da) sociedade em enterrar certos conceitos que até
hoje não foram compreendidos em sua essência, e por isso devem ser
vistos pela primeira vez - ou revistos de forma mais séria.
A grande
mídia vem fazendo mal enorme ao sufocar conceitos compreendidos
erroneamente e superficialmente pela sociedade. Sociedade essa que
ainda possui pouca educação e pouca cultura em sua maioria. Não
por sua culpa, mas em grande parte devido a longas jornadas de
trabalho que são forçadas a encarar apenas a título de garantir
sua subsistência. E também a uma pressão presente em suas mentes,
inserida sutilmente através dos meios de comunicação, controlados
por grupos que desejam manter as coisas funcionando do mesmo jeito.
Hughes Félicité Robert de Lamennais (1782-1854) |
A
libertação das mentes é o único caminho para iniciarmos
verdadeira revolução em nossa sociedade. Quando as pessoas
perceberem que existe saturação para os ganhos materiais e que
devemos ter uma sociedade que garanta o básico para todos - para
podermos desenvolver a mente e a alma - as coisas começarão a
andar.
A
necessidade de se ganhar relativamente pouco, gastando grande parte
de seu tempo e energia para isso, e ainda mais usando esse
relativamente pouco para pagar apenas o necessário para sobreviver,
vem corroendo milhões de pessoas, que se vêem impedidas de
desenvolver outras habilidades. Tudo em prol do lucro e consumo de
bens absolutamente desnecessários.
Gostaria
de encerrar aqui deixando uma lista de autores relevantes que falam e
defendem temas tratados por mim neste artigo - mas de forma muito
melhor, obviamente. É um trio variado em formação, época e
nacionalidade, mas que possui unidade em uma coisa: difusão da
verdade e busca da felicidade. São verdadeiramente evoluídos em
todos os campos, e são prova para reforçar minhas idéias. São
eles:
- Bertrand Russell
- Hughes Félicité Robert de Lamennais
- Leonardo Boff
Vale a
pena ler a respeito da Teologia da Libertação (muito divulgado por
Boff); "Elogio do Ócio" (do B. Russell) e obras diversas de Lamennais.
Eles darão uma boa orientação sobre meios de construirmos uma
sociedade melhor: Utopia para os conformados, um projeto a ser
trabalhado para os verdadeiros operários das Eras.
Para
quem se interessar, aí vai:
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