Retratos da Vida (1981) |
Cada
diretor tem um modo diferente de imprimir seu ponto de vista através
da tela grande. O de Claude Lelouch, autor de "Un Homme et Une
Femme", era simples e profundo, espetacular mas introspectivo,
musical e real, mas sempre agradável de ser visto. Talvez um de seus
grandes méritos tenha sido o de conciliar a realidade dos fatos da
vida com a suavidade e delicadeza das cenas.
Em "Retratos
da Vida" a consequência da estupidez dos governos e de suas
infindáveis guerras é retratada na vida das pessoas comuns: homens
e mulheres que estudam, trabalham, se apaixonam, se separam, amam,
odeiam e morrem. Vidas dão reviravoltas inesperadas enquanto Estados
tomam grandes decisões – e quero destacar que quando digo "grande"
me refiro a magnitude do estrago causada por estas decisões, e não
pela inteligência destas.
Ano: 1936. Quatro países, quatro
famílias, quatro realidades distintas que serão unidas pelo
destino. O filme se inicia com uma maravilhosa cena de dança na qual
vemos um bailarino dançando ao som do famoso Bolero, de Maurice Ravel, num
plano fixo longo. Trata-se de um espetáculo realizado em público
nos dias atuais (da época), na sempre bela Paris. Diversos
personagens estão presentes. E pum! Num flash-back o diretor retorna
45 anos no tempo e inicia a construção de seus
personagens.
Moscou, Paris, Berlim e Nova York. Eis os
cenários onde as tramas irão se desenvolver. Os conflitos bélicos
europeus irão culminar com a Segunda Guerra Mundial, cujos efeitos
se repercutem no mundo inteiro. Para alguns de forma trágica e
sofrida, para outros com mais suavidade. Mas a vida de todos será
afetada.
"Retratos da Vida" não se preocupa em
criticar diretamente os conflitos. Seu objetivo é muito mais sutil.
Ele “apenas” deseja mostrar como as famílias se formam e como
elas reagem aos acontecimentos do mundo. A música é um grande
elemento nesse aspecto, sempre presente, seja em espetáculos,
eventos, marchas militares ou festas, o que é característico das
obras de Lelouch. A musicalidade permeia toda sua obra, dando uma
certa magnanimidade à sua mensagem.
A transição entre uma
história e outra ocorre na medida certa. O espectador pode
acompanhar os acontecimentos, as tragédias e conquistas dos
personagens, e se emocionar, sim...se emocionar, como se aquelas
pessoas, aquelas vidas, estivessem relacionadas com a nossa própria.
Poderiam ser nossos amigos, nossos familiares ou até nós mesmos.
Esse é o mérito de Lelouch. Ele consegue emocionar sem ser piegas
ou excessivamente sentimental.
O fim se dá quando todas essas
vidas se entrelaçam. Cada um tem um papel na grande apresentação
final. O Bolero toma conta da cena e voltamos para o início, a
continuação do que nos foi apresentado. Agora é possível entender
a dor de cada personagem – e as conquistas!
Vemos quatro décadas de história no rosto de cada um deles. Não é um desfecho triste nem alegre. Isso depende do ponto de vista de cada um. Mas uma coisa é certa: o final é bonito.
Link para cena de abertura do filme:
http://www.youtube.com/watch?v=zKTwvo8gx68
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