Muitas
pessoas mostram as verdades e ajudam as pessoas de diversas formas.
Independente de sua crença (ou não-crença). Artistas, cientistas,
teólogos, filósofos, donas de casa, jardineiros, pedreiros, entre
outros tantos profissionais. Todos tem a possibilidade de trazer luz
à sociedade através de seu métier.
E – acima de tudo e mais notável – essa capacidade de praticar o
bem da forma mais eficaz e elegante independe de qualquer atributo
que tendemos a enxergar e (infelizmente) valorizar nas pessoas:
classe, sexo, credo, etnia, etc. O que define um ser humano evoluído
de um involuído é seu caráter. E dentre os seres com caráter,
Charles Spencer Chaplin é um deles.
Cena final de "O Grande Ditador" (1940) |
É
fato que Chaplin fez fortuna com o Cinema. É fato também que ele
fez uso de parte da fortuna para ele mesmo. E é igualmente fato que
ele não era exemplo de pessoa estável em termos de relacionamentos
– teve vários casamentos durante a vida. No entanto, existe o
outro lado da moeda que, a meu ver, supera em muito esse primeiro, se
fizermos um balanço geral de sua pessoa.
Primeiro
ponto: grande parte do dinheiro arrecadado com seus filmes foi
reinvestido para filmar outros filmes; Segundo: todos seus filmes
tratam de temas universais e são elevados tanto do ponto de vista
artístico quanto humanitário; Terceiro: ele nunca se deixou levar
por modismos da classe a qual ele passou a pertencer, sempre agindo
de acordo com sua consciência, o que lhe valeu críticas infundadas
contra sua pessoa e sua expulsão dos EUA. Mas o ponto principal que
gostaria de ressaltar é um de seus mais belos discursos.
Quem
assistiu “O Grande Ditador” não pode deixar de relembrar a cena
final, quando o Barbeiro judeu, confundido com o Ditador Hynkel, fala
para a maior multidão jamais reunida na História. O discurso, que
deveria ser uma afirmação da força, massificação e indiferença,
se revela altamente pacífico, inteligente, ponderado e – por que
não – revolucionário. Um simples barbeiro fez a verdadeira
revolução moral ao se ver diante de um microfone conectado aos
ouvidos e mentes de bilhões de seres humanos prontos para tomarem
como verdade universal qualquer som proferido através do mesmo. E
nunca vi tanto poder ser usado com tanta sabedoria.
A
meu ver, o discurso de Chaplin de “O Grande Ditador” já retribui
para a humanidade – e todo meio ambiente – todo dinheiro ganho
por ele com a Sétima Arte.
Revendo
o discurso a emoção nunca diminui. Só aumenta. A música de
entrada – maravilhosos violinos que transmitem humildade e uma leve
chama de esperança – já revelam quem é a pessoa que irá falar.
O rosto, plasticamente de um ditador, se mostra sereno e determinado.
A verdade não está no rosto. Está nos olhos. É pura emoção. É
puro Chaplin. É pura moral em forma cinematográfica. É o discurso
mais cristão já proferido na História do Cinema – de todos que
já ouvi até hoje.
O
mais incrível é que todo aquele texto brotou do próprio Carlitos.
É seu roteiro e seu discurso. E...seu sentimento! Palavras de imensa
força moral que foram organizadas de modo a aumentar ao máximo seu
efeito propagador benévolo. Nele vemos um homem simples que não
quer conquistar nem governar ninguém, mas sim – se possível –
ajudar a todos. Qualquer um(a). E diz que “queremos viver da
felicidade dos outros, não do sofrimento.” E cita, trechos da
Bíblia (!). Sim. Um declarado ateu traz à tona citações bíblicas
para promover a união entre seres humanos. Para construir pontes e
destruir muros. Sim, um ateu mais Cristão – no verdadeiro sentido
da palavra – que diversas pessoas que se travestem de bondosas e
pouco fizeram e fazem para merecer tal classificação.
Charles
Chaplin prova através de seu discurso ousado – na época foi
taxado de comunista e radical pela sociedade norte-americana – que
sua Arte tinha uma função que ia além da simples promoção de
diversão e cultura. Ele já anteviu, como outros grandes nomes, a
conexão existente entre as diversas áreas. E tratou de inciar essa
conexão. De uma forma brilhante.
Não
deixemos que esse discurso seja enterrado jamais.
Seu
sepultamento será o nosso sepultamento como civilização.
As
grandes ações das grandes personalidades devem ecoar pela
eternidade.
Discurso completo em:
(P.S:
o mérito desse texto – se existe algum – se deve em grande parte
a Chaplin, que me inspira a escrever com tanto prazer e vontade.)
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