Desde
minha adolescência minhas maiores preocupações começaram a
divergir daquelas apresentadas pela maioria dos meus contemporâneos.
As coisas que eu sentia e praticava começavam a me parecer estranhas
quando eu usava a maioria do mundo como referência. Os padrões a
serem seguidos não me eram tão atraentes. Eu não conseguia ver
muito sentido em certas atitudes e certas maneiras de resolver
problemas da vida, que eram tidos como as melhores maneiras de
encarar as coisas. E – não estou certo – mas talvez foi essa
diferença e consequente falta de comunicação e compreensão (por
parte dos outros e de mim) que foi responsável por uma retração
crescente de minha parte. De forma que me vi jogado numa espécie de
sala escura na qual era incapaz de ver alguma saída. E de certo modo não creio ter encontrado a saída até hoje. Mas venho
resolvendo o problema de outra maneira: criei meu Universo nessa sala
escura, me adaptando ao modo de funcionamento deste mundo.
Quando
você deseja desenvolver alguma habilidade, falar algo ou seguir um
modo de vida tido como diferente pelas pessoas próximas a você, sua
pessoa começa a se ver diante de um dilema (di-lema: vem de leme,
que dá uma direção. logo, um di-lema significa que você está
diante de uma escolha entre seguir uma de duas direções...nesse
caso, em minha vida). E aí está a arte da vida: como
lidar com essa situação?
Podemos
nos ADAPTAR a uma situação ou nos CONFORMAR a ela. Enquanto a
primeira é algo construtiva para nosso ser, a segunda traz um efeito
destrutivo – a longo prazo.
Temos do
dicionário Larousse Cultural que:
ADAPTAR:
1. Ajustar, adequar; 3. Pôr em harmonia, em conformidade; 4. Aplicar
convenientemente.
CONFORMAR:
1. Formar, dispor, configurar; 2. Pôr de acordo com.
Quando
nos ADAPTAMOS a uma realidade, nossa essência continua a mesma, mas
aprendemos a filtrar as coisas não-construtivas que nos cercam, e
assim conseguimos conviver em ambientes diversos. Ou seja, não
traímos nossos ideais, nos mantendo firmes. Agimos em harmonia, em
conformidade (com nosso ser), reservando nossas ideias para um seleto
grupo a título de não nos prejudicarmos.
Por
outro lado, quando nos CONFORMAMOS com uma realidade, alteramos nossa
essência para sermos aceitos por um meio contrastante com nosso ser.
É, a meu ver, uma maneira mais fácil de lidar com a questão da
diferença. Somos colocados – nos colocamos – de acordo com o que
a maioria espera.
Precisamos
nos adaptar mais e nos conformar menos.
Eu por
exemplo NÃO ME CONFORMO que num mundo capaz de produzir tantas
riquezas e que se diz tão civilizado hajam pessoas com poder e que
ao mesmo tempo sejam tão insensatas. E que poderosos tenham tão
pouca visão das suas atitudes. Mas isso gera a reação construtiva.
Ao mesmo
tempo eu me ADAPTEI a viver num mundo dessa espécie (dito
civilizado) acreditando (ou melhor, sabendo intuitivamente) que
existe uma dinâmica – MUITO lenta – de mudança para o melhor. E
falo sobre tudo isso na medida do possível. Reservadamente.
Firmemente. Pacificamente. E estudo e reflito sobre diversos pontos.
E procuro estimular o debate (sou teimoso!). E busco viver de forma
equilibrada, focando mais as partes imateriais, independente das
críticas e tensões que possam vir a pairar sobre minha mente.
A
conformação ou a adaptação partem da inconformação com algo. E
em linhas gerais um ser humano que começa a entrar em desacordo pode
seguir um dos dois caminhos. São eles:
INCONFORMAÇÃO
→ DOR → CONFORMAÇÃO
ou
INCONFORMAÇÃO
→ DOR → REFLEXÃO → ADAPTAÇÃO
O
desenvolvimento da dor – a forma de lidar com ela – vai depender
exclusivamente da natureza do indivíduo. Os seres mais focados no
lado espiritual (ainda muito raros nesse planeta) tendem a seguir o
caminho da reflexão, que culmina em
adaptação. Essa é sua forma de aplacar a dor. Esses tentam viver
um pouco de acordo com o que o MUNDO PODE SER.
Por
outro lado, seres com um norte mais material tendem a aplacar a dor
se conformando com a situação. Qualquer faísca (sonho,vontade,
etc) presente em sua alma é enterrada no subconsciente e assim
passa-se a viver mais de acordo com o que o MUNDO É.
O tipo
que não se conforma mas se adapta tende a ter uma existência mais
feliz. À primeira vista eles parecem ser indivíduos mais solitários
e que fracassaram na vida. Mas se observarmos a fundo – e digo isso
baseado em pessoas que conheço e venho escutando, e histórias de
vida lida em livros – essas pessoas possuem uma riqueza interior
que lhe propicia toda felicidade e distração de que necessitam. São
pessoas em constante atividade laboral, seja ela física ou mental.
Uma atividade construída discretamente. Imperceptíveis para a
maioria. Uma atividade laboral realmente digna de um bom soldo, mas
que nosso modelo político-econômico obtuso e neolítico se recusa a
reconhecer como atividade construtora de uma nova civilização.
O que
quero dizer com tudo isso é que nem sempre pessoas que não se
conformam são “reclamonas” (o famoso tipo que faz mi mi mi).
Elas podem ser gente do tipo que se revoltam com as coisas mas
trabalham arduamente para combater as mazelas. E esse trabalho
geralmente é sutil, imperceptível. Ele pode ser feito em qualquer esfera da vida. Cada gesto, forma de falar, modo
de viver e de pensar são focos de resistência que combatem a
insensatez – ainda muito cultuada neste mundo.
Adaptar
sempre.
Conformar
jamais.
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