Os
filósofos gregos teorizaram que uma ditadura poderia ser o melhor
tipo de governo se (e somente se) o ditador fosse uma pessoa
verdadeiramente sábia. O problema é que até hoje não houve um
caso desses - e provavelmente nunca haverá...pelo menos enquanto
nosso mundo for atrasado do jeito que é. No entanto, mesmo que uma
situação desse tipo ocorresse, será que bastaria termos um sábio
com poderes totais? Quero dizer, se a população estivesse (em sua
maioria) longe do nível intelecto-moral desse tirano sábio, será
que ela aceitaria um governo justo, julgando-o realmente como tal? E
- segunda questão - não seria contraditório se uma pessoa
verdadeiramente sábia assumisse o poder por tanto tempo? Como se vê,
essa é uma questão complicada. Mas não desejo discorrer sobre esse
assunto, e sim as formas que uma ditadura pode assumir.
Um
governo ditatorial é autodestrutivo a longo prazo. Ele liberta uma
parcela minúscula da população para aprisionar uma massa de
pessoas. E usualmente coloca no topo da pirâmide uma pessoa (ou
grupo, que nesse caso caracterizaria uma aristocracia) inapta para
desenvolver o conjunto da população e se auto-sustentar.
"The Corporation" (documentário) |
Durante
o século XX vimos o advento de grandes estados totalitários.
Fascistas e comunistas. E enquanto o primeiro tipo tinha fins e meios
destrutivos, o do segundo tinha fins construtivos, mas os meios de
atingi-los eram destrutivos. Ou seja, impossibilitava a chegada nesse
fim. Dessa forma a humanidade conheceu duas formas de governo
diferentes que não se sustentaram porque não eram coerentes na sua
integridade. O primeiro era autodestrutivo a médio e longo prazo e o
segundo não soube trabalhar com os meios para chegar aonde queria. E
dessa tentativa mal sucedida o sistema vigente (capitalismo) se
manteve, se firmando como a única alternativa viável para a
evolução. Mas como podemos ver, ao abrir os jornais e perceber a
vida das pessoas à nossa volta (e as nossas próprias), essa "única
alternativa viável" parece estar se esgotando rapidamente. E o
motivo desse esgotamento é bem simples: nós ainda vivemos sob um
regime ditatorial. Só que a diferença entre a ditadura antiga e a
nova é que esta assumiu uma nova forma, muito discreta e (portanto)
letal.
Se hoje
na maioria das democracias Ocidentais não precisamos combater
Estados totalitários, temos o dever de combater as ditaduras
presentes em nossas corporações e instituições não-governamentais
que detém algum poder. Mas isso se torna difícil porque, mesmo quem
tem consciência do que ocorre, não se sabe exatamente o quê
combater. Ou como. O inimigo (ditadura) está pulverizado na
sociedade e suas instituições privadas. E digo até mesmo que ela
está inserida nos indivíduos - sim...em nós.
Quando
temos de combater o autoritarismo que pode estar dentro de nós
mesmos, começamos a perceber o que Cristo quis dizer ao falar de
Reforma íntima. A mudança de nosso ser é o primeiro passo para a
verdadeira revolução sócio-cultural de que este planeta tanto
anseia inconscientemente. E devemos dar exemplo disso. Sermos firmes.
É muito
complicado combater um mal que não se vê. Mas se começarmos a
pensar um pouco, podemos reparar nas características que denotam a
existência de uma estrutura ditatorial em nossa sociedade. Existe um
crescente (e famoso) culto aos "líderes" em diversos meios
corporativos. Muito semelhantes aos cultos do século passado. Só
que dessa vez travestidos com uma roupagem aparentemente sustentável,
elegante, amigável, limpa, honesta, futurística - e outras inúmeras
características do tipo. E são várias as roupagens, de modo que
existem diversas camadas que escondem a verdadeira essência desse
tipo de prática. É preciso pensar e estudar bastante disciplinas
mal vistas ou desprezadas em muitos meios onde o lucro é uma
divindade (como Sociologia, Filosofia, História e Arte). Mas isso
nunca é nem será dito em voz alta ou oficialmente, claro. Soaria
muito rude e autoritário.
Francisco Franco |
A
neo-ditadura assumiu o comportamento de um câncer: ela se espalha
por todo organismo saudável, se instalando em cada canto psicológico
onde existe uma brecha. Essa brecha surge a partir do momento em que
o indivíduo perde a capacidade de refletir. E, ao contrário do que
se pode pensar, isso ocorre quando temos mais certezas do que
dúvidas. Ou, em outras palavras, a partir do momento em que deixamos
de questionar. E ao se espalhar em diversos campos da mente e setores
da vida, fica difícil identificar a enfermidade. Tendemos a
prejudicar atitudes ou hábitos bons tentando acertar esse câncer.
A melhor
maneira de combater esse câncer, essa neo-ditadura, é através da
rejeição dos pseudo-valores que ela prega: culto a carros,
condomínios faraônicos, mulheres-objeto, homens-objeto,
eletroeletrônicos que sequer precisamos, viagens milionárias,
restaurantes de preços surreais,...uma vida surreal enfim. E
voltarmos nossos olhares para o verdadeiro mundo: o conhecimento, as
relações humanas e a sabedoria.
“Dai a
César o que é de César”, disse Jesus numa de suas parábolas.
Pois entreguemos aos insensatos que fomentam o capitalismo o que lhes
é devido.
Quando
as pessoas tomarem consciência das verdadeiras riquezas da vida, as
ditaduras começarão a ruir sem a necessidade de esforço algum. De
nenhum grupo e de ninguém. E um novo modelo politico-econômico
finalmente terá terreno para florescer.
Por isso
acredito que seguir a receita de estudar muito e nunca fazer mal a
ninguém.
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