Alemanha.
Verão de 1954. A União Soviética está enviando para casa mais uma
leva de seus prisioneiros de guerra. Entre eles Richard, pai de
Matthias, um garoto de 11 anos apaixonado por futebol que não perde
um comentário no rádio e passa o tempo livre nas ruas jogando bola
com os amigos. O menino tem irmãs e irmãos, vive com a mãe, tem
uma vida tranqüila e sossegada numa cidade mineradora, mas nunca
conheceu o pai, que teve as amarga experiência de ser enviado ao
front russo e ser capturado.
O
mundo do menino é abalado com o regresso do pai que, após doze anos
de ausência, estranha tudo e todos, e logo começa a impor regras na
casa, tentando controlar a vida de todo mundo, principalmente de seu
filho mais novo. Claro, o homem foi acostumado a isso. Logo, nada
mais natural que reproduzir esse comportamento em seu Lar.
Por
ter visto o horror da guerra e ter passado fome e humilhação,
Richard não consegue ver diversão na vida. Para ele o único futuro
é a disciplina e o trabalho duro. Nada de brincadeiras ou lazer.
Esse sentimento é agravado quando o governo alemão recusa pagar a
aposentadoria dos ex-soldados somente porque eles “roubaram”
comida de um acampamento por estarem com fome – mais uma vez é
reforçada a tese de que nenhum governo presta, seja ele de país
desenvolvido ou não – Gol!
O menino é reprimido pelo pai e
sofre. A Copa do Mundo, que significa tudo para o garoto, não passa
de uma bobagem para o pai. A família toda sofre, mas ninguém
ressente tanto quanto o pequeno Matthias.
Mas a obstinação
do menino pelo futebol acaba reacendendo a compaixão do pai e seu
amor à família, e aos poucos ele começa a entender o que significa
o futebol para seu filho mais novo.
Quando
a grande final da Copa do Mundo chega, Richard decide dar um presente
para o filho que nunca conheceu: mostrar o jogo da Alemanha contra a
Hungria...ao vivo, na Suíça. Ao ver a felicidade do filho Richard
sente feliz. Não há mais amargura. Todos voltam a ser uma
família.
Um final tão comovente e emocionante quanto o de “O
Milagre de Berna” é extremamente difícil de se atingir num filme.
Primeiro porque, ao longo da projeção, vemos a lenta e dolorosa
adaptação de um homem semi-acabado pela guerra e o choque da
família. Não é fácil compreender a realidade do outro. Segundo
pelo fato de que em nenhum momento o filme apela para a pieguice ou
clichês do gênero, tirando verdadeiras lágrimas de alegria do
público no final.
A trilha sonora é bem dosada e a direção
de Sönke Wortmann é muito delicada – como deveria ser para uma
história de família. Essas características, aliadas às boas
interpretações do pai e do pequeno Matthias, tornam “O Milagre de
Berna” uma experiência agradável e profunda. Sim, é um drama,
mas um drama com vida.
No final das contas, o verdadeiro
Milagre de Matthias não foi ter visto ao vivo o seu país golear a
seleção da Hungria numa virada fantástica, e sim ter ganho um
grande amigo: seu pai.
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