Como
um épico de grandes proporções, se fez necessário contratar um
elenco que estivesse a altura dos fatos e personagens históricos que
seriam exibidos em tela e, além do mais, era mister que a vida de
T.E. Lawrence fosse retratada de modo fiel. Para isso foram
contratados historiadores afim de orientar as filmagens, e um
mega-elenco foi colocado em cena. Nomes como Peter O`Toole, Omar
Sharif, Claude Rains, Anthony Quinn, Anthony Quayle, Alec Guiness,
Jack Hawkins e Mel Ferrer estavam presentes nesta produção de
grande escala.
"Lawrence of Arabia" (1962) de David Lean |
Maurice Jarre, um compositor francês ainda
muito jovem mas extremamente talentoso, foi chamado por David Lean
para personificar o espírito do deserto em forma de música, e pode
se ver claramente que a trilha sonora de “Lawrence da Arábia”
virou um marco. É aquela melodia que não se esquece, fica ecoando
em nossas mentes. Sim, da mesma forma que a própria personalidade de
Lawrence. Isso era essencial.
Início. A tela está preta, não
há imagem alguma impressa nela. Aos poucos começa a ser ouvida uma
orquestra, a “Overture” do filme, - algo que o cinema atual
deletou por se tratar de algo muito demorado e pouco lucrativo – e
logo após se inicia a história propriamente dita, com a câmera fixa
filmando Peter O’Toole – ou melhor, Lawrence – fazendo seus
preparativos para realizar o que seria seu ultimo passeio de
motocicleta. A partir do acidente, durante seu funeral, observamos um
repórter fazendo pergunta aos que compareceram à cerimônia e num
piscar de olhos voltamos para o início de 1916.
Agora,
gostaria de comentar algumas coisas que me deixaram intrigado com
essa grande obra.
Primeiro. Quando Lawrence e Dreyden estão
conversando sobre a missão do deserto em uma sala, e o jovem inglês
está todo animado e diz que será divertido tudo aquilo, vemos uma
das passagens mais simbólicas da história do cinema quando ele
sopra um fósforo e de repente nos é apresentado o deserto, a
Arábia, através do horizonte (bela fotografia). É uma das
passagens de cena mais belas e suaves já vista na história da
Sétima Arte.
Segundo. O fato de que “nada está escrito”,
como diria Lawrence ao howeitat (Sharif), ter sido colocado em prova
durante a trajetória em direção a Àquaba é uma mensagem do
diretor sobre o destino, a meu ver.
Vejamos
bem. O garoto se perde durante algum momento da longa peregrinação
e ninguém acredita ser possível existir um modo de mudar o que
aconteceu, mas mesmo assim “El Aurens” (como diriam os dois
irmãos da história) vai em busca deste e de um senhor no meio do
Nefud, correndo o risco de se perder ou ser vencido pelo calor
insuportável. Para surpresa de todos, principalmente do personagem
de Sharif, o oficial inglês volta com ambos para o acampamento e
causa um ar de superioridade.
O que parecia ser um milagre se
torna apenas um atraso do inevitável: o homem salvo, pouco antes do
ataque a cidade, participa de uma briga entre tribos e acaba
assassinando um homem. Antes de saber quem é, Lawrence decide que
ele deve punir o assassino por ser inglês e não incitar mais briga
entre tribos. Ele acaba matando o mesmo homem que salvara. Depois, ao
seguir para o Cairo com os dois irmãos, após a conquista de Aquaba,
este mesmo garoto more na areia movediça. Ou seja, para mim, Lean
quis dizer que aquilo que está escrito não pode ser alterado e a
vida deve seguir seu ritmo natural. Achei muito interessante a forma
de demonstrar isso. Fascinante!
Terceiro. O modo de
abordar o personagem principal revela um cel. Lawrence interessado em
lutar pelos árabes, pelo seu povo e sua cultura, o que de fato é
muito provável ser de fato, pois o jovem oficial inglês era
extremamente culto, tendo estudado história, arqueologia e línguas
diversas a fundo, se especializando em cultura árabe (uma das razões
por terem chamado o refinado Peter O’Toole para o papel). Mas após
tanto lutar por uma causa, este percebe que foi manipulado, e em
pouco tempo o novo país acaba caindo na mão das potências
imperialistas da época: Inglaterra e França – e logo após, e até
hoje, EUA.
Enfim, “Lawrence da Arábia” é mais que um
filme. É uma sensação, uma mensagem, um mergulhar profundo numa
das personalidades mais enigmáticas e fascinantes da História.